O Chile não se perderá no caminho

Minha última passagem pelo Chile, no comecinho do inverno, incluiu uma boate no subterrâneo de uma antiga fábrica. Os taxistas chegaram a se juntar para cobrar “apenas” 33 vezes o valor normal da corrida, hahahaha. Pois é, o Chile é diferenciado. Há um cheiro de primeiro mundo no ar, um mérito que não é nada fácil de alcançar na nossa região. Até a Espanha corre hoje o risco de perder parte do seu dinamismo econômico, enquanto o Chile parece escapar de uma armadilha estrutural que prende muitos países.

O livre mercado é mais presente por lá, em uma proporção mais pujante do que a média regional, e isso continua sendo uma lição ainda não aprendida pelos países que mais precisam se desenvolver.

Preciso voltar a ver as montanhas dos Andes, sentir a neve e tentar, por alguns instantes, sem a proteção das roupas, experimentar o que é uma temperatura naturalmente abaixo de zero.

Há tantos aspectos da política, da economia e da segurança que funcionam melhor no Chile do que no Brasil que seria hipócrita afirmar que somos superiores nesses quesitos. Não temos os melhores políticos, nossa economia é grande, mas disfuncional para a maioria dos brasileiros, e a sensação predominante é a de que quem comete crimes goza de liberdade, enquanto quem busca uma vida honesta precisa se abrigar na própria casa, transformada em uma espécie de prisão, para ter algum nível de proteção.

O Chile escapou da enrascada de copiar filosofias políticas que levaram tantos outros países a um atraso brutal. Escapou de forma clara. Pior do que ter na cadeira da presidência um governante imperfeito é ter alguém que busca o controle absoluto sobre o que você produz, que deseja uma fatia significativa dos seus lucros, que limita seu acesso ao que o resto do mundo produz e ainda afirma que tudo isso é “para proteger a indústria nacional”, quando, na prática, trata-se de proteger amigos do rei e garantir uma arrecadação farta. O Chile conseguiu escapar desse caminho pouco inteligente.