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Tocar tudo acaba com a audiência & tocar as desconhecidas também. Veja outros pecados mortais no rádio

Atualizado: 24 de jun.

Nas rádios comunitárias e pequenas comerciais, muitas vezes a programação é livremente executada pelos locutores e locutoras do horário, que geralmente são pessoas muito mais ligadas ao universo musical do que a população em geral. Isso faz com que conheçam Scorpions, A-ha, U2, Engenheiros do Hawaii, Bon Jovi, Adele, Dua Lipa... as chamadas “músicas boas”.

Pessoalmente, não gosto dessa expressão “música boa” porque ela simplesmente não faz sentido. O gosto musical é subjetivo, e tratá-lo como se houvesse um padrão universal de qualidade é o mesmo que dizer: “meu gosto é melhor que o seu”. Para cada sujeito, há uma ideia de música boa, e isso deve ser respeitado. Para muita gente, música boa é Calypso, e dentro do universo de suas emoções e vivências, ninguém pode dizer que está errado por gostar disso.


Tocar tudo não funciona

Sim, praticamente todo mundo gosta de vários estilos diferentes. Mas o perfil musical de uma emissora é mais importante do que a tentativa do locutor de “ensinar” o que é música boa. Quando quero ouvir forró e sertanejo, ritmos que combinam, sei que vou encontrar isso sem erro na 82 FM. Quando quero pop e rock, vou direto para a 84 FM. E se a vibe for MPB e românticas internacionais, a 86 FM me atende perfeitamente.

O que não adianta é a 82 FM tentar tocar de tudo. Isso espanta seu público principal. Sou exceção por gostar de todos esses estilos, mas até eu não gostaria de encontrar essa salada na 82 FM. Quero ter uma ideia clara do que esperar quando sintonizo a estação. Se vira uma bagunça, deixo de saber quando procurá-la.

Pode ter certeza: enquanto estiver tocando Zezé Di Camargo, a Dona Zefinha estará ouvindo a 82 FM. Mas, se logo em seguida tocar Britney Spears, ela vai soltar de cara um "djábu é isso", em seguida trocar de rádio e provavelmente não voltará. E o contrário também vale: quem gosta de Britney passou pela rádio quando tocava Zezé e não ficou. A rádio perdeu Dona Zefinha e não conquistou Kelly como ouvinte. E mesmo que Kelly ouça Britney por acaso, vai saber que foi um golpe de sorte, a programação é tão aleatória que não vale a pena esperar repetir.


Tocar “Lado B” também não funciona

Você escolhe uma música desconhecida da faixa 8 do CD de um artista famoso... só você conhece. Você escolheu o caminho mais difícil, o não óbvio, e, sinceramente, o que não funciona. Rádio é lugar para relembrar emoções musicais, não para resgatar “velhas novidades”. Se a música de 2005 não estourou, é porque não conquistou o público.

Encontre a faixa que foi sucesso e que as pessoas ainda pedem. E não tenha medo de ser repetitivo. Há milhares de artistas populares, você não vai conseguir ser tão repetitivo assim. O que mais ocorre, e disso não tem como fugir, são as músicas do momento. Para rádios comunitárias e FMs de pequenas cidades, o foco deve ser o público popular, e não um nicho musical dentro de uma população que já é pequena.


Um espetáculo de programação, mas um desastre de áudio

Há coisas baratas que não podem ser ignoradas. Ter um processador de áudio e oferecer um som de alta qualidade é essencial. A concorrência hoje é com YouTube, Spotify e arquivos pessoais, todos com qualidade impecável, sem chiados, distorções ou estouros.

Eu, particularmente, não anunciaria numa rádio de cidade pequena que não focasse em uma programação popular e que não oferecesse áudio de qualidade. Com menos de dois mil reais é possível encontrar um processador de áudio APEL-07X, que faz um trabalho muito melhor do que modelos de cinco mil. Achar essa raridade é difícil, mas há muitas rádios com um desses porque souberam procurar e negociar. Com paciência, dá até para conseguir por um preço mais baixo.


Não adianta reclamar do anunciante

O anunciante é seu ouvinte mais crítico. Ele percebe, quase como um profissional, quando o som está ruim ou quando a programação não conversa com o público. A partir do momento que ele pensa em colocar dinheiro na sua rádio, ele vai abrir os ouvidos de forma diferente: buscando falhas que antes não notava. Lembre-se: o anunciante é o ouvinte mais criterioso que sua rádio vai ter.


Outros destruidores de audiência

1. Locução desinteressada ou amadora demais

Problema: Muitos programas são comandados por voluntários que não têm preparo para a comunicação com o público, vozes monótonas, leitura robotizada, erros graves de português, improviso vazio, exagero de vícios de linguagem (“tipo assim”, “né?”, “tá ligado?”).

Solução: Investir em um mínimo de formação básica em locução e comunicação. Não precisa ser profissional da Globo, mas é preciso entusiasmo, clareza e empatia com o ouvinte. Um bom locutor segura o público mesmo com música repetida.


2. Grade de programação bagunçada

Problema: O ouvinte não sabe o que esperar de uma hora para outra. Um programa de forró é seguido por debate religioso, que depois vira música eletrônica.

Solução: Ter blocos bem definidos por horários e estilos, com programas fixos e identificáveis. Mesmo sendo uma rádio comunitária, a previsibilidade gera fidelidade. A lógica é: “ligo às 9h e sei que tem isso”.


3. Falta de regularidade

Problema: Programas somem do ar, mudam de horário sem aviso, ou só vão ao ar “quando dá”.

Solução: Cumprir a grade com compromisso e constância. O público se acostuma com a presença do locutor e do programa. Se não for possível manter ao vivo, pense em reprises ou automatizações bem produzidas para não “sumir”.


4. Excesso de falação e pouca música

Problema: Locutores que falam demais, interrompem a música o tempo todo ou fazem longas conversas internas sem relevância para o ouvinte.

Solução: Treinar a locução para ser curta, envolvente e direcionada ao ouvinte. Em rádios musicais, menos é mais. A música deve ser protagonista. Se for um programa de bate-papo ou conteúdo, aí sim o foco muda, mas precisa ficar claro.


5. Descuido com as vinhetas e a identidade sonora

Problema: Falta de vinhetas bem feitas, trilhas ultrapassadas ou áudio “cru” entre músicas.

Solução: Uma identidade sonora marcante faz a rádio parecer maior, mais profissional e dá orgulho para a comunidade. Vinhetas bem feitas, com voz agradável e trilhas adequadas, melhoram muito a experiência do ouvinte.


6. Ignorar o público nas redes sociais

Problema: Hoje o rádio se mistura com WhatsApp, Instagram, Facebook. Ignorar isso é deixar de acompanhar onde o ouvinte está.

Solução: Ter um número de WhatsApp ativo para participação, postar trechos dos programas, enquetes, bastidores. Isso reforça a comunidade e atrai até quem não está com o rádio ligado.


7. Não ouvir o ouvinte

Problema: Locutor que não lê pedidos, não anota reclamações, ou fica só no próprio gosto musical.

Solução: Criar canais reais de escuta, anotar pedidos, agradecer interações no ar, fazer enquetes sobre a programação, dar voz à comunidade. O público precisa se sentir parte da rádio, não apenas consumidor.


“Quer que sua rádio cresça? Seja previsível na proposta musical, consistente no som e próximo do povo que te ouve. Só assim a comunidade vira audiência, e a audiência vira resultado.”




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