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O “buraco” que os gigantes ignoraram: como a Embraer conquistou o mercado regional com os E-Jets

Atenção nesses pontos:

  • Boeing e Airbus focaram em aviões de 150+ assentos e deixaram um espaço de US$ 11–13 bi/ano.

  • A Embraer desenhou, do zero, uma família para 70–146 assentos (E170/175/190/195).

  • Operar em pistas de ~5.000 ft abriu centenas de aeroportos e rotas “finas”.

  • Nos EUA, as scope clauses (76 assentos/86.000 lb) criaram um fosso regulatório que favoreceu o E175.

  • O futuro depende de negociações trabalhistas e da pausa do E175-E2.


1) Oportunidade invisível

Nos anos 1990, Boeing e Airbus correram atrás de aviões cada vez maiores. Ao mirar hubs e economias de escala, deixaram sem solução o intervalo entre 70 e 150 assentos, um nicho bilionário, com demanda reprimida em aeroportos regionais de pistas curtas e fluxo de passageiros mais baixo.


2) Origem e virada da Embraer

Criada em 1969, em São José dos Campos, a Embraer formou reputação com aeronaves robustas (Bandeirante e EMB-120). A privatização em 1994 liberou a empresa para assumir riscos, atrair talentos e buscar um posicionamento global que os gigantes não perseguiam.


3) Nasce a família E-Jet

Em 1999, a engenharia da Embraer partiu de uma pergunta simples: “o que as regionais precisam?”. A resposta virou quatro modelos projetados de forma purpose-built para 70–146 assentos: E170/175 (faixa inferior) e E190/195 (faixa superior).


4) Decisão de projeto que mudou o jogo

A capacidade de operar em pistas de ~5.000 ft desbloqueou aeroportos vetados a 737/A320 (que costumam exigir ~7.000 ft). Resultado: cidades “abandonadas” puderam voltar às malhas com voos economicamente viáveis.


5) A matemática da rota: right-sizing que fecha a conta

Com E-Jets, o break-even pode cair para 60–70% de ocupação (ex.: E175 com 76 assentos fecha a conta com ~45–53 passageiros). Em trechos de ~500 milhas, o consumo é significativamente menor que o de narrowbodies maiores — somando economia em taxas, tripulação e manutenção.


6) Experiência do passageiro que fideliza

Cabine 2-2 (sem assento do meio), janelas maiores, bins que acomodam carry-on e ruído reduzido aproximam a sensação de “mainline”. Pesquisas de companhias aéreas consistentemente apontam E175/E190 como preferidos em conforto no segmento.


7) Vantagem de custo e confiabilidade

Cadeia de suprimentos integrada e flexível, aprendida em crises brasileiras, ajudou a Embraer a manter linhas, peças e suporte técnico global. Confiabilidade operacional acima de 99% em climas e altitudes desafiadores alimentou reorders e “grudou” operadores à frota.


8) O tabuleiro mexe: Bombardier, Airbus e Boeing

A disputa de 2017–2018 (que envolveu queixa dos EUA, queda de tarifas e a entrada da Airbus no C-Series/A220) elevou a competição. A tentativa de joint venture Boeing-Embraer (2018) acabou desfeita em 2020, mantendo a Embraer independente.


9) O fosso regulatório nos EUA

Contratos com sindicatos de pilotos limitam regionais a 76 assentos e 86.000 lb. O E175 foi afinado para 85.517 lb e 76 assentos — ajuste cirúrgico que criou uma barreira regulatória para rivais. O modelo responde por mais de 70% dos voos regionais nos EUA.


10) Riscos à frente

Nos EUA, o E175-E2 está pausado por não atender ao limite de peso das scope clauses. Se as regras mudarem, o “fosso” pode desaparecer rapidamente. A liderança dependerá menos de engenharia e mais de regulação e economia das cias.



A Embraer venceu ao oferecer “o tamanho certo, na hora certa”. Enquanto os gigantes olhavam para cima, a brasileira enxergou valor onde importava: aeroportos esquecidos, rotas finas e finanças realistas. O legado dos E-Jets prova que estratégia e execução podem derrubar hierarquias na aviação.

Caixa de dados (para destaque no post)

  • Faixa de assentos alvo: 70–146

  • Pista mínima (referência): ~5.000 ft

  • EUA – limite sindical: 76 assentos / 86.000 lb

  • Participação nos EUA (≈2023): 70%+ dos voos regionais com E175



Novas fronteiras: as vitórias globais da Embraer


1) Expansão comercial em mercados-chave

Em 2025, a Embraer registrou um backlog (pedidos firmes) que alcançou US$ 15,2 bilhões apenas para a divisão de Aviação Comercial, um recorde de nove anos. Exemplos concretos:

  • A companhia assinou com o LATAM Airlines Group a compra de 24 aeronaves firmes da família E195-E2, com opção para até mais 50 unidades.

  • A empresa também obteve pedido da TrueNoord (leasing/gerenciamento de aeronaves) para 20 E195-E2, com opção de mais 30 unidades. Esses contratos ilustram claramente como a Embraer já não está restrita ao “nicho regional” brasileiro ou latino-americano: o alcance global se expande.

2) Europa: entrada estratégica e diversificação de portfólio

A Europa torna-se um palco cada vez mais relevante para a Embraer. Algumas conquistas:

  • A divisão de Defesa & Segurança vendeu aeronaves ao mercado europeu, como o Embraer C‑390 Millennium (ex-KC-390) para países da OTAN e do continente.

  • A Embraer está estudando a instalação de uma linha final de montagem para o C-390 na Polónia, o que ajudaria a consolidar presença industrial no continente.

  • A entrada no mercado escandinavo comercial: por exemplo, a Embraer conquistou um cliente relevante para a família E-Jets na região.Tudo isso aponta para um movimento que vai além da simples venda de aviões: trata-se de industrialização, suporte pós-venda e uma presença “local” em escala global.

3) Diversificação além dos jatos comerciais regionais

Enquanto o foco inicial da Embraer era os jatos regionais de 70-150 assentos, a empresa já atua também em:

  • Aviação executiva (jatos “biz”) com forte crescimento.

  • Defesa & Segurança, com o C-390 e outras plataformas, ampliando seu portfólio para transporte militar, logística, reabastecimento aéreo, etc.

  • Serviços e suporte, cadeia de manutenção e atendimento global — segmento de backlog que alcançou US$ 4,9 bilhões em 3Q25. Essa diversificação permite à Embraer não depender exclusivamente de um segmento (como jatos regionais), tornando-se mais resiliente.

4) Impactos para o Brasil e para o mercado global

  • Para o Brasil: a Embraer torna-se um “campeão” de exportação brasileira, com tecnologia de ponta e presença internacional consolidada.

  • Para o setor global: o fato de uma empresa “fora” do círculo dos gigantes (Boeing/Airbus) crescer agressivamente força o reposicionamento das estratégias industriais e de mercado.

  • A logística global, os fornecedores, a manutenção e o pós-venda são todos afetados: países que adquirem Embraer passam a depender de uma cadeia global com presença brasileira + localizações espalhadas.

5) Potenciais riscos e variáveis de mercado

Apesar dos bons resultados, algumas variáveis merecem atenção:

  • A capacidade de manter ritmo de entregas (exemplos: 62 aeronaves entregues no 3º trimestre de 2025).

  • Concorrência acirrada: outros fabricantes menores ou novas tecnologias podem entrar.

  • Riscos geopolíticos ou de câmbio, pois a cadeia global exige suporte local e eficiência logística.

  • Na defesa: contratos governamentais são complexos, longos e dependem de decisões políticas. Se essas variáveis forem bem administradas, a Embraer pode consolidar essa expansão.



A Embraer já não é mais apenas “aquela brasileira que fez jatos regionais”. Ela transita, com êxito, por mercados múltiplos — comerciais, executivos, defesa — e por geografias amplas: América Latina, América do Norte, Europa e outros continentes. A chave para essa conquista tem sido identificar lacunas de mercado, oferecer soluções adaptadas, e industrializar globalmente. Para seu artigo, este panorama complementa a narrativa de “tamanho certo na hora certa” com a de “expansão global no momento certo”.



 Fontes primárias e institucionais

  1. Embraer S.A. – Investor & Media Center (oficial)

  2. Embraer – Press Release: “Services & Support backlog reaches US$ 4.9 billion” (2025)

    • Inclui dados de desempenho por divisão e expansão global de suporte técnico.

  3. Embraer – Global Deliveries Data (2025)

    • Relatórios trimestrais com números de entregas (ex.: 62 aeronaves no 3º trimestre de 2025).


Fontes jornalísticas e financeiras

  1. Reuters (2025)

  2. Nasdaq.com (2025)

  3. Axios (2025)

  4. IBA Aero (2025)

  5. AirInsight (2025)

Fontes complementares e institucionais

  1. Wikipedia (Embraer C-390 Millennium, atualizado 2025)

  2. Forecast International / FlightPlan (2025)

  3. Airport Technology & Airport Spotting (2023–2025)

  4. EDR Magazine (2023)




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