Natal descongela verticalização após mais de 20 anos
- Ricardo Gurgel

- 17 de out.
- 4 min de leitura
Atualizado: 18 de out.
Verticalizar para preservar: por que cidades altas podem ser mais verdes, eficientes e prósperas
Já falei algumas vezes e volto a insistir neste ponto: uma cidade verticalizada pode ser muito mais benéfica ao meio ambiente do que se costuma imaginar. A ideia de que prédios altos e adensamento urbano são inimigos da sustentabilidade é um equívoco que precisa ser superado. Na verdade, ocorre o oposto: ao concentrar pessoas e atividades em áreas planejadas e bem estruturadas, reduz-se drasticamente a mancha urbana e seus impactos negativos sobre o território.
Quando a população está menos espalhada, os transportes consomem menos combustível, os tempos de deslocamento diminuem e a emissão de poluentes cai. O transporte coletivo também se torna mais viável e eficiente, já que a concentração de passageiros permite linhas com trajetos mais racionais e frequência adequada. Em uma cidade adensada, cada quilômetro rodado tem mais utilidade, e cada investimento em infraestrutura de mobilidade tem mais retorno.
Além disso, a verticalização facilita o controle ambiental e sanitário. É muito mais simples e eficiente fiscalizar o sistema de esgoto de um edifício com dezenas de unidades do que tentar supervisionar centenas de casas espalhadas, muitas vezes construídas em ocupações irregulares e sem ligação com a rede pública. Quando os prédios são obrigados a cumprir regras técnicas rígidas, os sistemas de tratamento e destinação de resíduos tornam-se padronizados, monitoráveis e de fácil correção. Isso reduz riscos à saúde pública e evita a contaminação do solo e dos cursos d’água.
Há também um impacto direto sobre o desenvolvimento econômico. A indústria da construção civil e o mercado imobiliário são motores poderosos de crescimento. Cada novo edifício gera empregos durante as obras, movimenta cadeias produtivas inteiras e fortalece o comércio local. E, depois de prontos, os empreendimentos continuam a gerar renda e impostos, criando serviços, dinamizando bairros e valorizando o entorno.
Em suma, verticalizar não significa destruir o meio ambiente, muitas vezes é a maneira mais inteligente de preservá-lo. Cidades que entenderam isso conseguiram crescer com equilíbrio, aliando qualidade de vida, eficiência urbana e desenvolvimento sustentável. Aquelas que ainda resistem ao “concreto” precisam compreender que o futuro não está em espalhar casas indefinidamente, mas em planejar com inteligência e construir para cima.
O congelamento
O antigo Plano Diretor de Natal impunha exigências tão rígidas às edificações verticalizadas que qualquer projeto enfrentava dois caminhos: “melhor não fazer” ou “não é permitido fazer”. Em ambos os casos, as ideias morriam ainda na mesa de planejamento. Não por acaso, João Pessoa, com um plano diretor muito mais flexível, floresceu, mantendo a qualidade ambiental aliada à qualidade das construções, ao crescimento populacional e, consequentemente, ao fortalecimento econômico de seus bairros.
“Coincidência” ou não, em Natal diversos bairros simplesmente “mofaram”. O exemplo mais emblemático é a Cidade Alta: hoje marcada por pichações e prédios abandonados, cuja reforma era inviável dentro da legislação anterior. Onde não há moradores, não há comércio.
Escolhas diferentes, resultados opostos
Duas cidades adotaram caminhos distintos:
Uma, ao permitir a verticalização, tornou-se mais verde, com melhor qualidade de vida e bairros revitalizados.
A outra, ao se opor ao “concreto”, viu a expansão desordenada da mancha urbana, o comércio enfraquecido e o abandono tomar conta de diversos pontos, inclusive com bairros inteiros sucumbindo.
Qual dessas políticas trouxe maior harmonia com o meio ambiente?A que, ao restringir construções, estimulou fossas irregulares e prédios decadentes? Ou a que recebeu investimentos privados, atraiu novos moradores e passou a exigir sistemas adequados de tratamento e destinação de resíduos antes da aprovação dos empreendimentos? Em muitos casos, famílias foram realocadas de edificações insalubres para condomínios regularizados — um avanço ambiental e social simultaneamente.
A mudança do plano e a retomada do crescimento
Com a atualização do Plano Diretor, Natal voltou a ligar seus motores. Os projetos que só começaram a ser elaborados após a sanção da nova lei, já começam, três anos depois, a mostrar seus primeiros efeitos transformadores.Em termos econômicos, o impacto é claro: milhões de reais a mais em arrecadação para o município, tanto em impostos e taxas diretas quanto na geração de empregos durante as obras. E, claro, nas oportunidades que surgirão com os empreendimentos em pleno funcionamento.
Alguns dos empreendimentos que são consequência direta das mudanças
Jardins do Potengi









A cidade estava apagando sua população com o travamento construtivo
Segundo os dados disponíveis, o município de Natal (RN) perdeu cerca de 52.439 habitantes entre os censos de 2010 e 2022.
Em 2010: ~ 803.739 habitantes. IBGE
Em 2022: ~ 751.300 habitantes. IBGE
Aqui vai um levantamento, com bairros de Natal que perderam população de 2010 para 2022, segundo dados do Censo do IBGE compilados pela imprensa local e por material oficial da Prefeitura
Resumo (2010 → 2022):
Bairro | 2010 | 2022 | Variação/fonte |
Potengi | 57.848 | 48.596 | −16,0% Tribuna do Norte |
Felipe Camarão | 50.997 | 44.416 | −12,9% Tribuna do Norte |
Lagoa Azul | 61.289 | 55.607 | −9,3% Tribuna do Norte |
Nossa Senhora da Apresentação | 79.759 | 76.177 | −4,5% Tribuna do Norte |
Pajuçara | ≈58.021* | 56.454 | −2,7% Tribuna do Norte |
Notas rápidas
A matéria da Tribuna do Norte lista, com base no “Censo 2022: Agregados de Setores Censitários/IBGE”, os bairros que mais cresceram e mais caíram; dela extraí os pares 2010/2022 e as variações de Potengi, Felipe Camarão, Lagoa Azul, N. Sra. da Apresentação e a taxa de Pajuçara. Tribuna do Norte
O Mapa Informativo da Prefeitura (SEMURB) traz, na tabela “Demografia”, os totais por bairro; para Lagoa Azul é possível ler 61.289 (2010) e 55.607 (2022), confirmando a queda. Prefeitura Municipal do Natal
Para 2022, há também listagens de bairros mais populosos (com números) que confirmam os totais de 2022 usados acima (ex.: Pajuçara 56.454). Blog do BG
O câncer do debate público é atacar ou se apaixonar por uma ideia apenas por estar condicionado à cor ideológica de onde ela nasceu












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