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Criação do pré-mercado para o consumo do rádio digital

A transição para um novo modo de ouvir rádio não é nem simples, nem barata, especialmente para quem transmite. Para os radiodifusores, o maior desafio nem sempre está no custo do investimento, mas na lentidão da adesão por parte dos ouvintes. Já o governo, pressionado por demandas da indústria, do comércio e da população, busca decisões que garantam retorno econômico, segurança e avanços tecnológicos. Enquanto isso, o público permanece indeciso: vale a pena comprar um receptor compatível? Há muitas dúvidas no ar.


A importância do pré-mercado para o rádio digital

Criar um ambiente favorável antes da adoção massiva é um passo inédito, mas necessário. Diversos modelos de rádio digital enfrentam barreiras justamente por não preparar previamente a audiência. A criação de um pré-mercado pode ser o caminho para vencer a hesitação de governos, radiodifusores e da própria indústria.


Ambiente sensorial: o rádio como experiência

Vejo como fundamental a criação de ambientes sensoriais voltados ao rádio digital, locais que estimulem a escuta, o toque, a comparação e o encantamento. Meros demonstrativos técnicos ou vídeos explicativos não são suficientes: a percepção de qualidade é profundamente influenciada pela forma como a experiência é apresentada.

Imagine um espaço imersivo que reúna governo, indústria e ouvintes numa verdadeira "degustação sonora", como se fosse a escolha do primeiro carro. Um local com diferentes modelos de receptores, fones de ouvido de alta performance, acústica pensada para experiências individuais ou coletivas, bares temáticos, salas audiovisuais, espaços para eventos e debates contínuos. O rádio digital é uma revolução e deve se mostrar como tal. Essa "loja sensorial" seria quase um shopping center das possibilidades oferecidas por essa nova fase do rádio.

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Loja DRM: um espaço de encantamento

No Brasil, a criação de uma “Loja DRM” seria especialmente estratégica. O sistema DRM é, atualmente, o único com transmissões digitais em ondas curtas acessíveis em território nacional, mesmo sem transmissões locais, é possível captar rádios internacionais com qualidade surpreendente.

Esse espaço não seria apenas um ponto de venda: seria uma vitrine viva, um palco onde fornecedores disputam atenção com estandes iluminados, telas de LED, produtos em uso, ambientes com som de qualidade jamais experienciada em muitas cidades, ou mesmo países. Cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, com sua força cultural e econômica, poderiam viabilizar esse modelo com sustentabilidade e impacto. O Brasil é apaixonado por música: aqui, o público canta tão alto quanto os próprios artistas já amplificados. Se há um país propício para promover essa experiência, é o nosso.


Como consumir um rádio digital que ainda não existe?

Essa é uma das grandes vantagens do DRM: ele já está no ar, com alcance global. O ouvinte brasileiro pode ter acesso ao rádio digital hoje, bastando um receptor compatível. Isso permite que a experiência vá além da teoria e se torne concreta, real. Em paralelo, transmissões simuladas de baixa potência podem compor o cenário, mostrando como seria a recepção de uma emissora local digitalizada.

O governo deve facilitar a chegada desses equipamentos ao mercado, viabilizando a compra por preços acessíveis e demonstrando sua aplicação prática. Um consumidor que consegue, desde já, ouvir rádios digitais internacionais em ondas curtas, ou até agendar escutas em ondas médias, é um consumidor conquistado.


Estúdio simulado: o “match” entre emissor e receptor

Outra proposta interessante é incluir, nesses ambientes, um estúdio-modelo totalmente equipado, custeado por fabricantes ou parceiros estratégicos. Um pequeno transmissor (permitido para testes), operando em baixíssima potência, poderia transmitir o conteúdo gerado ali mesmo, criando uma simulação controlada e segura.

Imagine: uma sala decorada como uma casa, com diferentes equipamentos e opções de escuta livre. O público poderia experimentar o rádio digital de forma real, testando, escolhendo e se encantando. Esse tipo de vivência é o que falta para que governos, radiodifusores, indústria e ouvintes saibam se esse “match” é verdadeiro — ou apenas mais um perfil bonito manipulado por filtros.


Loja modelo para o Brasil?

Inicialmente, pensei esse modelo de promoção do hábito de ouvir rádio digital voltado para o Brasil. No entanto, ele pode ser perfeitamente aplicável a qualquer país que ainda não definiu sua estratégia para a transição digital. Mais do que isso: seria útil também em nações que já iniciaram a implantação do DRM, mas onde boa parte da audiência ainda não teve contato direto com essa nova forma de radiodifusão.

Não consegui segurar o pensamento e comentei com o professor Thiago, sobre quem falarei melhor em instantes. Aproveitei para compartilhar a ideia geral e já quero agradecer pelo empenho que ele vem demonstrando, além do preparo evidente para contribuir de forma decisiva na implantação desse conceito, não só no Brasil, mas também no exterior. Antes mesmo da publicação, ter o acolhimento dele foi um excelente teste para validar o modelo.

Esse tipo de ambiente sensorial pode acelerar a familiarização do público e impulsionar a adesão ao rádio digital, conferindo velocidade ao processo de digitalização. E mesmo em países que adotaram o DAB+, uma loja como essa poderia funcionar como ponto de demonstração e venda de equipamentos capazes de sintonizar ondas curtas em qualidade digital e, dependendo do horário e da localização, até mesmo emissões em ondas médias.


Agradecimentos

Essas ideias encontraram forte apoio e repercutiram de forma extremamente positiva junto ao amigo Thiago Novaes — antropólogo, pesquisador e grande ativista da democratização da comunicação por meio do rádio. Colaborador ativo do Consórcio DRM, Thiago é uma das vozes mais influentes nos debates globais sobre o tema.

Com sua ampla experiência em palestras, projetos e articulações internacionais, ele certamente tem muito a acrescentar a essa proposta de uma “loja de experiências” para o rádio digital. Sua energia, criatividade e visão sistêmica são fontes valiosas de inspiração. Thiago é uma peça essencial para dar forma concreta a um projeto dessa natureza e será, sem dúvida, indispensável na sua execução.



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