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Radio, Market & the Listener's Mind

A Nova Rádio Adulto Contemporânea

Parte que me toca

Lembro demais de um spot da 102,9 FM em 1900 e lá vai o foguete SONDA 4, a 102,9 na época ainda fazia parte do grupo Tribuna do Norte, tocava música de cemitério (hahaha). Foi a primeira vez que ouvi que a emissora se tornaria, em poucos dias, a Transamérica Natal, um evento para mim. Estava visitando a casa de um primo do meu pai em Pirangi do Sul. Acho que poucos conseguem imaginar a empolgação de ouvir aquele anúncio repetindo a mesma frase: "Natal vai mudar, Natal vai mudar... Vem aí a maior rede de rádios do Brasil. Aguarde!"  e em seguida, aquele clássico sinal sonoro da Transamérica: "pin pin pin pin".

Eu já conhecia muito bem o som da Transamérica, passava um bom tempo tentando captar a 92,7 MHz de Recife. Era o som que eu queria ouvir, uma playlist desejada, super adolescente, que cairia perfeitamente hoje em uma HOT AC.


Vamos começar falando das rádios “jovens”

Um dos grandes desafios que rádios como a Mix enfrentam hoje é justamente o público que escolheram: os jovens. Mas o problema não está exatamente na rádio, e sim no fato de que o público jovem de hoje já nasceu sem o hábito de ouvir rádio. A questão é simples: não é que a Mix esteja errando, é que o público escolhido por ela não conhece o rádio como sua principal fonte de música e informação.

Estamos falando de uma geração que não tem paciência para esperar que a rádio escolha o que ela vai ouvir. Eles querem montar suas próprias playlists, música por música, de forma personalizada. Por isso, a concorrência com o Spotify e o YouTube não é brincadeira, é brutal, tanto em audiência quanto em atratividade comercial.


E as rádios “Oldies”?

Nos anos 90, muitas rádios que se posicionavam como sofisticadas, voltadas à elite, apostavam num público mais velho, financeiramente estabelecido. Vamos pensar: se em 1990 essas rádios miravam nos ouvintes de 40 anos, esse mesmo público tem hoje 70 anos ou mais.

Mesmo que alguns tenham boa qualidade de vida e longevidade, esse grupo naturalmente encolhe com o tempo. Além disso, muitos desses ouvintes passam a depender da escolha musical dos filhos ou netos. Resultado: temos hoje muitas rádios “Oldies” competindo por um público que diminuiu. Soma-se a isso o fato de que muitas rádios públicas também adotam esse perfil adulto, o que satura ainda mais o segmento.


O alvo das rádios “adultas”

O público-alvo das rádios adultas entre os anos 90 e 2000 foi envelhecendo junto com as emissoras. Muitas dessas rádios mantiveram suas playlists quase inalteradas, acompanhando a idade dos seus ouvintes: músicas que agradavam aos de 40 anos nos anos 90 passaram a agradar os de 50 nos anos 2000, os de 60 nos anos 2010 e os de 70 nos anos 2020.

Isso não é necessariamente um problema. Pelo contrário, esse é um público fiel, que ama rádio. Mas é um público que, por razões naturais, vai diminuindo. Por isso, o desafio é saber se a rádio quer apenas manter esse grupo ou atrair novos ouvintes sem perder sua identidade.


Quem são os “novos” ouvintes de 40 e 50 anos?

Hoje, quem está na faixa dos 40 ou 50 anos cresceu ouvindo as grandes rádios “pop/jovem” dos anos 80 e 90 — como a Cidade, a Jovem Pan e a Transamérica. E é justamente esse público que representa a nova geração adulta.

O que antes era trilha sonora da adolescência virou agora o novo “Adulto Contemporâneo”. E algumas rádios já entenderam isso. A Rede Hits (com sede em Macaé/RJ) e a Positividade FM (Rio de Janeiro) são exemplos de emissoras que conseguiram atualizar esse conceito. Elas oferecem uma programação com o som daquela época, mas com frescor, leveza e identidade visual modernas.

É o mesmo público que um dia foi fanático por rádio e continua gostando de ouvir — só que agora com um novo perfil de vida e consumo.


A repaginação dos clássicos

Esse novo adulto talvez nunca tenha se identificado com o romantismo excessivo de rádios como a Antena 1 nos anos 90. Mas se os clássicos daquela época forem “revividos” com pegada mais quente, mais viva, algo como um remix emocional e sonoro, é possível conquistar essa audiência com um toque de ousadia.

Trata-se, em essência, de transformar os hits da pista em trilha sonora da maturidade.


Comparativo com canções OLDIES e canções NEW OLDIES

  • I Want to Know Love is - Foreigner (1984)

Seu desdobramento de 2019


  • Fast Car -Tracy Chapman (1987)

Seu desdobramento de 2015

Seu desdobramento de 2023

Vejamos o quanto os desdobramentos podem ser flexíveis. Um bom exemplo é a música Fast Car, originalmente de Tracy Chapman. A canção foi capaz de se reposicionar em diferentes estilos: ganhou uma versão eletrônica mais dançante e também uma releitura no estilo "novo country" com Luke Combs.

Essa segunda versão, em particular, acerta em cheio no foco do novo público das rádios Adulto Contemporâneo (AC). Mantém a leveza da original, mas traz um frescor que dialoga com quem busca uma programação na linha da Antena 1 — só que com um repertório mais atualizado. É o tipo de renovação que consegue respeitar a memória afetiva da música, ao mesmo tempo em que atrai ouvintes em busca de novidades com sonoridade familiar.


Compreendam o poder contínuo de renascimento de uma canção


Original

Adulto Contemporâneo: um formato com fôlego

Há espaço para vários formatos dentro da categoria “Adulto”. Mas o que tende a ter maior potencial nas grandes cidades é justamente aquele que revive o som das rádios pop dos anos 80, 90 e 2000, com foco na geração que hoje está entre os 40 e 50 anos.

Já apostar no público adolescente ou muito jovem exige outro nível de reinvenção, porque esse ouvinte nem sempre tem vínculos com o rádio. E, nesse caso, não adianta insistir sem oferecer algo radicalmente novo em forma, linguagem, interação e tecnologia.


A urgência do rádio digital e da modernização

A verdade é que o rádio não pode mais se dar ao luxo de fugir da internet, sua maior concorrente e, ao mesmo tempo, maior aliada. Streaming de alta qualidade, presença multiplataforma e canais de interação em tempo real são o mínimo que se espera.

Enquanto os mais jovens exigem tudo na hora e na palma da mão, o rádio precisa correr para não perder ainda mais espaço. E isso passa por modernizar o AM e o FM com transmissão digital e explorar novas formas de criar experiências para o ouvinte.

No curto e médio prazo, uma rádio adulto contemporânea bem planejada, com base nesse perfil que descrevemos, tem potencial de fidelizar um público economicamente ativo e ainda apaixonado pelo rádio. Mas para manter esse fôlego no longo prazo, será preciso mais: será necessário evoluir junto com o mundo digital.



Nostalgia

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