Qual é o alcance de uma rádio comunitária com 25 watts e torre de 30 metros?
- Ricardo Gurgel
- 25 de mai.
- 6 min de leitura
Atualizado: 1 de jun.
Não é difícil encontrar emissoras FM com 10.000 watts de potência em capitais ou grandes cidades do interior. No entanto, o fato de uma FM comercial operar com uma potência 400 vezes maior que a de uma rádio comunitária (Radcom) não significa que ela terá 400 vezes mais alcance. Uma pequena FM comunitária que opera em 87,9 MHz com 25 watts de potência pode, em determinadas condições, surpreender pelo seu alcance.
Um raciocínio mais próximo da realidade, embora ainda incompleto, é considerar que, para dobrar o alcance, é necessário quadruplicar a potência. Essa lógica é limitada porque existem outras variáveis importantes nessa equação, como a curvatura da Terra e o acúmulo de barreiras físicas com o aumento da distância.
Mas, para efeito de compreensão, vamos a um exercício comparativo:
Se uma FM usa 25 watts e alcança uma distância X,
Terá que usar 100 watts para alcançar 2X, ou seja, o dobro da distância;
Não é raro vermos emissoras com 25 kW alcançando mais de 100 km e já com sérios problemas de recepção causados pela curvatura da Terra, além de dificuldades de penetração em morros e outros obstáculos físicos. Se não fosse essa curvatura e a soma das barreiras naturais que degradam o sinal, o alcance real poderia ser muito maior.
Em curta distância se tem menos problemas com curvatura e obstáculos, não é de se surpreender que uma Radcom com 25 watts consiga alcançar além dos 7 km com qualidade razoável, desde que não esteja disputando sinal com outra rádio comunitária na mesma frequência.
Postagem relacionada
Rádios sem esse equipamento não conseguem ter uma mínima qualidade sonora
A topografia é a chave
No FM, muitas vezes vale mais investir em altura do que em potência. As ondas em FM, como qualquer outra onda, funcionam melhor quanto menos barreiras físicas encontram. Uma boa elevação significa maior alcance visual (horizonte mais distante) e menor incidência de obstáculos, resultando em um ganho geral na visibilidade entre transmissor e receptor. Uma torre cercada por prédios, mesmo com potência razoável, pode enfrentar mais dificuldades do que outra mais elevada, porém com potência menor.
O que mais reduz o alcance das comunitárias?
O compartilhamento da mesma frequência é um fator mutuamente destrutivo. Emissoras comunitárias próximas entre si acabam gerando regiões de sinal misturado. Muitas vezes, duas rádios comunitárias separadas por apenas 7 km perdem áreas significativas de cobertura. Ambas saem prejudicadas: não há garantia de que, por estar ligeiramente mais próxima de uma comunidade, uma das rádios terá áudio aceitável. Provavelmente, a escuta em trânsito será confusa, e mesmo em casa o posicionamento do rádio será determinante para escolher entre duas ou mais emissoras que chegam com algum sinal e nem assim existe a garantia áudio razoável, uma chiado de fundo indica que outra ou outras emissoras estão "destruindo" o sinal escolhido.
Postagem relacionada
Rádio comunitária, apesar de humilde não é barata e tende a operar no vermelho
Postagem relacionada
Círculo vicioso da baixa arrecadação de pequenas rádios, principalmente comunitárias
É como se, em vez de sintonizar uma frequência e ouvir claramente, o ouvinte precisasse experimentar diferentes posições do rádio para ver qual sinal se sobressai. Isso é comum em áreas onde se capta o sinal de duas, três ou mais emissoras em 87,9 MHz, a frequência mais usada pelas Radcoms. Embora existam outras frequências destinadas a rádios comunitárias, a superposição em 87,9 é particularmente comum.
Sou Ricardo Gurgel, engenheiro formado pela UFRN, e procuro compartilhar os conhecimentos desse universo de forma leve, como em uma conversa entre amigos, sempre que possível, evitando termos complicados. Em breve, trarei mais postagens sobre o tema, algumas com um enfoque mais técnico, outras de maneira mais informal.
Instagram: instagram.com/blogdoRG.com.br.
Estudo de Caso: Malembá FM
Freq.:87,9 Mhz - Cidade: Senador Georgino Avelino
Mapa de alcance da Malembá FM

Apesar de operar com apenas 25 watts, a Malembá FM pode ser ouvida com qualidade satisfatória em Pipa, a cerca de 15 km do transmissor. Também alcança a cidade de Arês, localizada a aproximadamente 4,5 km da sede da rádio.
Localidades alcançadas pelo sinal da Malembá FM:
a)Torre: marco 0 b)Sinal: excelente a bom, variações nas colinas__ c)Obstruções: colinas pontuais
a)Distância da torre: 2 km b)Sinal: razoável a bom__ c)Obstruções: apenas vegetação |
a)Distância da torre: 4,5 km b)Sinal: bom em quase toda a zona urbana__ c)Obstruções: apenas vegetação
a)Distância da torre: 1,6 km b)Sinal: Excelente__ c)Obstruções: apenas vegetação |
a)Distância da torre: 5,7 km b)Sinal: bom em quase toda a zona urbana__ c)Obstruções: visível do topo da torre, sem obstáculos |
a)Distância da torre: 5,5 km b)Sinal: interferido pela 87,9 MHz de Nísia Floresta (Executivo FM), com possibilidade de recepção satisfatória dependendo da posição do receptor e da localização na cidade__ c)Obstruções: visível do topo da torre, sem obstáculos
Distância da torre: 12 km Sinal: bom/razoável__ Obstruções: leve obstrução topográfica ![]()
a)Distância da torre: 6,2 km b)Sinal: muito bom__ c)Obstruções: visível do topo da torre, sem obstáculos
a)Distância da torre: 6,4 km b)Sinal: muito bom__ c)Obstruções: visível do topo da torre, sem obstáculos
a)Distância da torre: 6,6 km b)Sinal: muito bom__ c)Obstruções: visível do topo da torre, sem obstáculos
a)Distância da torre: 7,3 km b)Sinal: muito bom__ c)Obstruções: visível do topo da torre, sem obstáculos
a)Distância da torre: 8,1 km b)Sinal: bom __ c)Obstruções: visível do topo da torre, sem obstáculos
a)Distância da torre: 8,2 km b)Sinal: bom __ c)Obstruções: visível do topo da torre, sem obstáculos |
Trajetos e desafios
Seguindo ao oeste de Umari em direção a Goianinha, o sinal da Malembá FM começa a disputar espaço com a 87,9 MHz da Goianinha FM, o que limita sua recepção na cidade vizinha. Situação semelhante ocorre ao seguir de Carnaúba rumo à BR-101, onde o sinal entra em conflito com a 87,9 MHz da Executivo FM, de Nísia Floresta.
Mesmo com essas interferências, a Malembá FM consegue atingir uma população consideravelmente maior do que a do próprio município de Senador Georgino Avelino. Isso se deve às condições topográficas favoráveis, que permitem a propagação eficiente do sinal em comunidades que margeiam a Lagoa Guaraíras, na verdade, uma baía, ao redor da qual estão situadas as cidades de Arês, Tibau do Sul e o próprio Georgino Avelino.
E se não houvesse outras FMs em 87,9 MHz?
Caso a Malembá FM fosse a única emissora operando na frequência 87,9 MHz na região, teria potencial para cobrir, com qualidade de excelente a muito boa, uma população estimada em quase 25 mil habitantes, e, com qualidade de razoável a aceitável, uma área que abrange um número muito superior de pessoas.
O modelo 87,9
A experiência da Malembá FM mostra que, mesmo com apenas 25 watts e uma torre de 30 metros, uma rádio comunitária pode alcançar diversas comunidades vizinhas com qualidade surpreendente, desde que não haja interferência de outra emissora na mesma frequência. Infelizmente, o modelo brasileiro, que obriga todas as rádios comunitárias a operarem na mesma faixa (geralmente 87,9 MHz), mesmo em cidades vizinhas, cria um cenário de disputa destrutiva por espaço no dial. Em vez de fortalecer o direito à comunicação local, essa política enfraquece as rádios comunitárias, prejudica a experiência do ouvinte e limita o verdadeiro alcance social dessas emissoras.
Esse modelo centralizado e restritivo é, na prática, uma exceção no mundo. Em países como Argentina, México, Estados Unidos, Reino Unido e outros da Europa, rádios comunitárias são autorizadas a operar em diferentes frequências dentro da faixa FM, de acordo com estudos técnicos que evitam interferências. Ou seja, há flexibilidade regulatória para que rádios de localidades próximas coexistam de forma harmônica, ampliando a diversidade e fortalecendo a comunicação regional.
No Brasil, insistir na imposição de uma única frequência para todas as comunitárias, mesmo em regiões de alta densidade populacional ou geográfica precisa ser superado. Permitir faixas alternativas, com base em critérios técnicos e territoriais, seria um passo fundamental para democratizar o espectro e potencializar o papel das rádios comunitárias como agentes de informação, cultura e cidadania.
Extratos técnicos do levantamento

Cidades, distritos e povoados alcançados com o sinal razoável, bom ou excelente da Malembá FM (25 watts)

Excelente muito bom, bem explicado, mas infelizmente não tem como manter uma rádio sem ter dinheiro! Acho que não vamos conseguir renovar a outorga em 2026