Explicando a um amigo de Buenos Aires que agora invisto na Argentina
- Ricardo Gurgel

- 23 de mai.
- 4 min de leitura
Eu, assim como muitos brasileiros, estou considerando me mudar para a Argentina e, desde já, começamos a investir no ETF com o código ARGT. Esse fundo é, basicamente, uma forma de comprar, em dólares, participações de um conjunto de empresas argentinas. Em outras palavras, não estamos negociando com o FMI: estamos trazendo dólares para o país a cada 15 dias. É fundamental entender que, em uma economia saudável, quem paga as dívidas não é o banco central, mas sim o fluxo de dólares que entra no país. Esses dólares precisam ser trocados conosco, os investidores, e depois o governo pode usá-los para cumprir seus compromissos. O banco central nem precisa comprar reservas.
Não há motivo para preocupação se ele parar de acumular dólares: eles continuarão entrando aos milhões pelos bolsos de brasileiros, americanos, chilenos e de pessoas que acreditam no livre comércio e sabem fazer contas.
Olha só, um país se capitaliza com dólares quando consegue gerar um fluxo constante de divisas vindas do exterior. Esses dólares podem chegar por diferentes caminhos: exportações, investimentos estrangeiros, turismo receptivo, remessas ou até mesmo por argentinos e estrangeiros que decidem poupar ou empreender dentro do país. Razões principais:
Potencial exportador intacto: A Argentina tem recursos estratégicos que o mundo precisa: alimentos, energia (como o gás de Vaca Muerta), lítio e mais. Se o país conseguir condições estáveis, as exportações podem disparar.
Valorização de ativos: Hoje, muitas empresas argentinas estão subvalorizadas. Investidores internacionais (como eu e muitos brasileiros) estamos comprando ETFs como o ARGT porque acreditamos que, se a macroeconomia se estabilizar, esses ativos vão se valorizar muito. Isso significa entrada de dólares financeiros.
Turismo e migração regional: Com um câmbio competitivo, a Argentina pode atrair turistas e até pessoas de outros países que queiram morar, estudar ou investir lá. Cada um deles traz dólares ao país, mesmo que não passem pelo Banco Central.
Mudança de expectativas: Quando um país começa a gerar confiança, os dólares param de sair e começam a entrar. Isso se reflete na demanda por títulos, ações e até na compra de imóveis por estrangeiros.
E algo muito importante: em um país economicamente saudável, quem paga as dívidas não é o Banco Central, mas o mercado. Ou seja, os dólares que entram por vias legítimas são trocados no mercado, e o governo pode usar esses recursos para quitar compromissos sem emitir ou queimar reservas. Por isso, não devemos nos obcecar com o fato de o Banco Central acumular reservas no curto prazo. Se a confiança voltar, os dólares vão entrar de qualquer jeito, por meio de milhões de decisões privadas de brasileiros, chilenos, americanos ou até de argentinos que trazem suas economias de volta do exterior, porque veem oportunidades reais.
Resumindo, a Argentina tem potencial. O que falta é um cenário de previsibilidade, regras claras e sinais de estabilidade para que esses dólares não só entrem, mas fiquem e trabalhem para o desenvolvimento do país.
Quais são os sinais de melhora da economia argentina?
Virada
A economia argentina ainda enfrenta grandes desafios, mas nos últimos meses surgiram alguns sinais de recuperação que economistas, analistas e investidores começaram a destacar, especialmente desde o início do governo de Javier Milei. A seguir, compartilho os principais indicadores e fatos que são interpretados como sinais de estabilização ou melhora econômica:
Superávit fiscal primário:
Pela primeira vez em mais de uma década, o governo nacional registrou superávit fiscal primário nos primeiros meses de 2024 e 2025.
Isso significa que o Estado está arrecadando mais do que gasta (sem contar os juros da dívida).
É um sinal de disciplina fiscal que aumenta a confiança dos mercados.
Fortalecimento das reservas internacionais:
Embora o Banco Central ainda não acumule grandes volumes de dólares, as reservas líquidas pararam de cair e mostram sinais de estabilização.
A entrada de divisas por exportações e instrumentos financeiros está ajudando a recompor gradualmente o colchão de reservas.
Estabilização cambial:
O dólar blue e as taxas de câmbio financeiras se mantiveram relativamente estáveis nos últimos meses, após anos de alta volatilidade.
Isso sugere menor pressão sobre o peso argentino e expectativas mais controladas de desvalorização.
Desaceleração da inflação mensal:
A inflação mensal, que ultrapassou 20% em dezembro de 2023, mostrou uma desaceleração constante ao longo de 2024 e 2025.
Embora o índice ainda seja alto, a tendência de queda indica que as políticas de ajuste monetário e fiscal estão começando a dar resultados.
Interesse de investidores estrangeiros:
Fundos internacionais voltaram a olhar para ativos argentinos (ações e títulos soberanos) com mais interesse.
O ETF ARGT, por exemplo, apresentou uma valorização recente, refletindo uma aposta na recuperação da economia real e do setor corporativo.
Melhora do saldo comercial:
As exportações de produtos como soja, milho, carne e energia (gás e petróleo de Vaca Muerta) continuam fortes.
Com importações mais controladas, o país está gerando superávits comerciais, o que facilita a entrada líquida de dólares.
Desregulamentação e reformas econômicas:
O governo de Milei impulsionou uma série de reformas liberalizantes: eliminação de controles de preços, abertura de mercados e simplificação de normas.
Embora gerem debate, essas medidas foram bem recebidas por setores empresariais e investidores com perfil mais liberal.
Perspectivas de crescimento em setores-chave:
O agronegócio, a mineração de lítio e a energia aparecem como motores de crescimento a médio prazo.
A demanda global por esses recursos beneficia a Argentina, se ela conseguir consolidar um ambiente previsível e competitivo.
A cautela ainda é necessária
Apesar desses sinais encorajadores, a economia argentina:
Ainda apresenta altos níveis de pobreza e emprego informal.
Tem um mercado de crédito muito restrito.
Enfrenta tensões políticas importantes, com resistência às reformas no Congresso.
Vive um contexto social delicado devido ao ajuste fiscal.










Comentários