Dois jornalistas argentinos em TVs brasileiras com visões opostas: Palacios vs. Segré na cobertura da Argentina de Milei
- Ricardo Gurgel

- 8 de jun.
- 3 min de leitura
A Argentina de Javier Milei é um tema vibrante no Brasil, e queremos saber mais. Tenho a sensação de que um canal tem se calado sobre nossos vizinhos. Para isso, apresento as impressões de dois jornalistas argentinos: Ariel Palacios (GloboNews) e Gustavo Segré (Jovem Pan), que oferecem retratos radicalmente diferentes ao público brasileiro. Enquanto Palacios enfatiza o “caos” inicial e os custos sociais de 2024, Segré adota um registro mais diário, atualizado, em sintonia com o que vejo online em outros veículos argentinos como Rádio Mitre, Rádio Rivadavia, TN e La Nación+.
Ariel Palacios: o peso do “caos” social
Palacios, correspondente da GloboNews, apresenta a gestão de Milei como “caótica e improvisada”. Em 2024, destacou o salto da pobreza para 57% e a insegurança alimentar atingindo 64,5% das crianças, segundo a UCA. Atribuiu o quadro aos cortes abruptos de subsídios em energia e transporte, que provocaram aumentos tarifários. Em tom crítico, chamou Milei de “irracional” e sugere que "outros" (e ele provavelmente) podem imaginar seu caminho como para uma “‘Coreia do Norte’ do neoliberalismo” (vídeo abaixo).
Vejo a GloboNews enfatizar conflitos de Milei com o Congresso e líderes regionais, como a resistência ao pacote de reformas. Mas Palacios silencia sobre a redução da pobreza, a queda da inflação e a retomada do PIB. Esse foco seletivo sugere um viés a se ter cuidado.
Palacios se falou, falou baixinho, mas ao que parece realmente silenciou diante da posterior queda da pobreza para 38%, com expectativa de recuo para 32% em 2025, além das projeções de crescimento econômico de 5 a 6% para o PIB (FMI, BBVA). Essa omissão fragiliza sua narrativa e exige cautela de quem o acompanha.
Gustavo Segré: eco da virada argentina
Segré, comentarista da Jovem Pan, enxerga Milei como uma ruptura necessária com o populismo peronista, refletindo a linha editorial de rádios como Mitre e Rivadavia, e canais como TN e La Nación+, que acompanho frequentemente. Economista liberal, Segré valoriza o superávit fiscal, a queda da inflação e a retomada econômica. Defende os cortes de subsídios como medidas inevitáveis para evitar um colapso à la Venezuela, onde o Estado paternalista resultou em fome, hiperinflação e apagões.
Segré foca na estabilização e ganha muitos pontos ao confrontar os dados com as previsões catastróficas: a pobreza caiu, desmentindo a ideia de que reformas de enxugamento do Estado geram custos sociais insuportáveis no longo prazo.
Subsídios e a lição venezuelana
Palacios destaca o impacto dos cortes de subsídios (tarifas altas, pobreza inicial), mas não menciona o risco de mantê-los, que levou a Venezuela ao caos. Segré defende os cortes como essenciais para o superávit fiscal e a retomada, evitando a destruição econômica.
Enquanto a GloboNews foca em conflitos políticos, Segré e os meios argentinos exploram o todo.
Afinal, qual visão capta a Argentina real?
Palacios retrata com precisão o sofrimento inicial, mas sua omissão dos sinais de recuperação econômica e redução da pobreza desbalanceia o quadro. Segré, alinhado ao que assisto diretamente via YouTube e streamings de rádios e TVs argentinas, oferece um olhar mais completo: reconhece os sacrifícios, mas valoriza os avanços.
A Argentina de Milei apresenta conquistas com PIB em alta, inflação em queda, pobreza recuando e tensões reais, especialmente com sindicatos e o peronismo resistente ao fim do assistencialismo.
Para o público brasileiro, o melhor caminho é acompanhar ambos os analistas, mas também buscar os meios argentinos diretamente. Só assim se compreende, com menos filtros, essa revolução liberal que desafia velhas estruturas e renova debates na América do Sul.
Me intriga perceber que..
Durante a eleição de Javier Milei (2023) e seus primeiros meses, a Argentina dominava as manchetes brasileiras. Hoje, a GloboNews parece focar apenas nos desentendimentos de Milei com políticos, enquanto ignora as evoluções econômicas. Já Gustavo Segré, na Jovem Pan, ecoa meios argentinos como Rádio Mitre, Rivadavia, TN e La Nación+.
Qual Argentina chega ao Brasil?
A Argentina de Milei é complexa: retomada econômica convive com tensões. Para entender o quadro, vale não confiar que teremos cobertura completa por redes brasileiras











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