Aeroporto de João Pessoa é entrave para o salto econômico, e nova ponte pode ser a rota para um novo terminal
- Ricardo Gurgel
- há 2 dias
- 5 min de leitura
Existe uma particularidade entre Natal e João Pessoa que preciso destacar pela vivência. Por muito tempo, Natal teve um aeroporto pequeno, mas sempre movimentado e a cada ampliação, a demanda rapidamente absorvia a nova capacidade, exigindo novas reformas em pouco tempo. Mesmo parecendo superlotado em alguns momentos, sempre foi elogiado.
O aeroporto era bem avaliado justamente por sua localização: ficava muito próximo da região de maior geração de passageiros da cidade, as praias e bairros de alta demanda aérea e, após sucessivas ampliações, já contava com uma capacidade respeitável em seus últimos anos. Os trajetos médios dos polos geradores de passageiros levavam entre 15 minutos e 20 minutos, além de estar em uma área naturalmente abastecida por fluxo pendular e opções de transporte. Para os hotéis, era um custo reduzido levar e buscar hóspedes no Aeroporto Augusto Severo, com rotas desobstruídas e práticas.
A troca
Em 2014, a transição dos aeroportos em plena Copa do Mundo de Futebol, o Augusto Severo deixou de operar, e a cidade passou a contar com o Aeroporto Aluízio Alves, mais distante e de acesso mais complicado, olha só a coincidência, tiveram início os “problemas” em diversos indicadores de fluxo de passageiros e de desempenho econômico ligados ao turismo. É verdade que aqui e ali se observa alguma evolução, mas nada que se compare à curva de crescimento que existia antes da mudança
O que antes era trajeto rápido e barato, tornou-se cansativo, congestionado e caro. O resultado foi imediato: menor disposição dos passageiros em enfrentar o deslocamento, queda na percepção de conforto e, consequentemente, menos voos. Com aeronaves mais vazias, a lógica de mercado encarece as passagens, "menos voos = passagens mais caras", naturalmente isso para sustentar as rotas.
A posição de João Pessoa
João Pessoa vive hoje uma situação intermediária. O aeroporto de “Jampa”, comparativamente, está mais longe do que era a rota "Natal - Aero Augusto Severo", mas ainda mais perto do que a rota "Natal - Aero Aluísio Alves". O problema é que não conta com a mesma estrutura de qualidade, ficando atrás dos dois. E isso ocorre justamente em um momento de boom imobiliário e populacional da capital paraibana.

Enquanto Natal foi sufocada por décadas por um Plano Diretor que inviabilizava a verticalização, encarecendo terrenos e limitando o potencial imobiliário, João Pessoa aproveitou a brecha. O capital que poderia ter ido para Natal encontrou na capital paraibana um ambiente mais amigável e rentável. Hoje, “Jampa” não apenas recuperou a diferença como ultrapassou Natal em população: antes tinha 100 mil habitantes a menos, agora tem 100 mil a mais que Natal.
Essa ascensão só reforça o quanto um novo aeroporto, em melhor local, poderia destravar ainda mais o potencial econômico da cidade. A ironia é que, enquanto a mudança de endereço foi negativa para Natal, em João Pessoa ela poderia ser positiva.
A nova ponte como rota expressa
João Pessoa conta com a construção de uma nova ponte, um salto de conexão que permitirá um fluxo mais ágil e relativamente desafogado entre a principal zona geradora de passageiros e uma saída expressa da mancha urbana. Essa nova ligação abre a possibilidade de, em pouco tempo, acessar vias rápidas que conduzem tanto às áreas de expansão quanto à própria BR-101.
Isso traz duas possibilidades importantes. A primeira é tornar mais prático o trajeto até o atual aeroporto, funcionando como uma espécie de rodoanel: mesmo sendo mais distante, a via expressa poderia evitar o trânsito interno da cidade que hoje compromete o percurso. O cuidado, nesse caso, deve estar em não repetir o exemplo de Natal, onde trechos pouco habitados do acesso ao aeroporto se transformaram em pontos de insegurança.
A segunda possibilidade é mais estratégica: a nova ponte poderia preparar o terreno para a realocação do aeroporto, levando-o para uma área mais próxima dessa saída, já fora da mancha urbana. Isso garantiria ao mesmo tempo maior proximidade para os passageiros e a construção de um terminal moderno, capaz de atender não apenas à demanda atual, mas também às projeções de crescimento para os próximos anos.
A obra abrirá caminho para uma nova região, com potencial de criação de rotas expressas após a ponte, e isso pode ser a chave para transformar a mobilidade local.
Um aeroporto exige acesso rápido às áreas de maior geração de passageiros, e no caso da capital paraibana essa região é o litoral e seus bairros satélites. Se o deslocamento entre aeroporto e zona hoteleira for rápido, seguro e direto, o impacto pode ser decisivo tanto para turistas quanto para moradores. O visitante que sabe que poderá chegar ao hotel em poucos minutos após o desembarque certamente encontra aí um encanto a mais. Da mesma forma, os viajantes frequentes sofreriam menos com trajetos mais rápidos e menos congestionados, o aeroporto de João Pessoa não possui a estrutura que a cidade merece, pelo menos atualmente o retrato é esse.
Estimativa de percurso e tempo entre o atual aeroporto e a Praia de Manaíra, trajeto "exemplo" para passageiros com objetivos turísticos em uma das principais praias urbanas.
Em torno de 23 quilômetros com duração de estimada de 34 minutos


Não existe atualmente nenhum projeto de novo aeroporto. O que apresento a seguir são apenas simulações de um possível terminal em uma área que hoje é utilizada, basicamente, para o cultivo de cana-de-açúcar.


Natal reagiu
Recentemente, Natal modernizou seu Plano Diretor, abrindo caminho para competir em condições mais equilibradas com João Pessoa. Contudo, ainda pairam dúvidas sobre como novas estratégias tributárias no Brasil, taxas e impostos sobre aluguel e transações imobiliárias, poderão impactar esse mercado. Caso venham pesadas, a retomada pode ser comprometida.
É importante lembrar que o Rio Grande do Norte carrega a fama de “insegurança construtiva”: investidores frequentemente relatam dificuldades em aprovar ou executar projetos que seriam bem-vindos em outros estados. A sensação, muitas vezes, é de que existe até uma resistência deliberada a empreendimentos de impacto econômico de qualquer nível. Se essa percepção não mudar, mesmo com ajustes urbanísticos, Natal pode continuar em desvantagem diante do dinamismo de João Pessoa.
Uma brutal tentação de investir nesse lugar
O Brasil carrega limitações significativas quando se trata de investimentos. De um lado, o Estado mostra restrições orçamentárias e entraves burocráticos; de outro, o setor privado muitas vezes hesita em realizar grandes apostas em razão da insegurança jurídica que pode transformar oportunidades em riscos severos. Quem ousa investir pesado no país corre o risco de ser penalizado por regras instáveis, interpretações variáveis ou tributos inesperados.
Apesar disso, há fronteiras imensas a serem exploradas. A nova conexão criada pela ponte em João Pessoa é um exemplo concreto: do outro lado pode emergir um forte polo de valorização imobiliária, impulsionado pela rapidez de acesso à capital. Esse vetor de crescimento pode abrir espaço para iniciativas que vão além da malha doméstica e internacional tradicional.
É plausível imaginar investimentos privados em aeródromos locais que sigam modelos de sucesso já consolidados em outras regiões do país. Um exemplo é o São Paulo Catarina Aeroporto Executivo Internacional, que revelou a força de um mercado até então pouco explorado: o de jatos executivos de alta renda em aeroportos mais compactos e especializados.
Embora exista uma clara diferença entre a escala econômica de São Paulo e a realidade de João Pessoa, nada impede a adoção da mesma filosofia, desde que adequadamente dimensionada. Um aeródromo executivo, aliado a um novo corredor imobiliário viabilizado pela ponte, poderia catapultar João Pessoa a um novo patamar de desenvolvimento econômico, combinando turismo, negócios e investimentos imobiliários em uma mesma estratégia integrada.
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