Trade Venezuela
- Ricardo Gurgel

- 6 de set.
- 2 min de leitura
Vocês têm noção de que bilhões podem surgir em curtíssimo prazo com uma mudança de poder na Venezuela? Muito além dos brutais efeitos políticos de um Estado enraizado em controles ditatoriais e sustentado pelos militares, a queda do regime provocará um choque imediato no mercado. E não acredito que Trump faria isso de graça: é notório que ele só age diante de garantias de ganhos financeiros gigantescos. A dúvida é se esses ganhos seriam para os Estados Unidos como nação ou para grupos alinhados a ele. Mas não dá para achar que tudo será apenas teatro.
Trump já vem construindo estruturas para se proteger de problemas jurídicos. Para alguém que já declarou interesse em retomar o controle do Canal do Panamá — o que baratearia enormemente o escoamento de produções americanas e, sobretudo, do petróleo transportado por suas empresas, não parecem existir limites claros. Vivemos uma etapa em que vale quase tudo: a lógica é que os EUA podem fazer sem medo aquilo que não permitem que a China faça. Isso cria um jogo perigoso, em que cada lado fecha os olhos para a liberdade do outro agir, apenas para preservar sua própria margem de manobra.
No caso da China, essa liberdade é ainda mais estável, porque Xi Jinping não enfrenta contrapesos internos. Já Trump, mesmo ciente de que pode enfrentar um caos jurídico pessoal após o fim de seu mandato, parece montar desde já um arcabouço de poder político e financeiro para o período pós-presidência. Sua admiração por Putin se explica justamente pelo modelo russo de liberdade plena e presidência sem fim.
Esse é um jogo bruto, de sangue, do qual não fazemos parte. Putin talvez seja o líder que menos preza pela vida humana, mas também não vejo humanidade como prioridade para Trump. Xi, por sua vez, é o mais calculista e estrategista — e, por isso mesmo, o mais perigoso, pois age sem freios internos. Ainda assim, evita esticar a corda até uma guerra direta, mantendo a Rússia ativa na Ucrânia para impedir que os EUA ampliem sua influência direta ou indireta sobre as riquezas daquela região e sobre países que integraram a antiga União Soviética.

Independentemente de como Trump estruturará seus ganhos, é inegável que a Venezuela precisa se libertar de Maduro e da máfia que o sustenta. Ele simboliza a própria miséria do povo venezuelano. E não há como o país não melhorar com sua saída. Para além do aspecto humano e político, a mudança de regime será um trade gigantesco para o petróleo venezuelano. Vale observar quais petroleiras se alinharão à PDVSA no pós-Maduro: pode ser uma oportunidade de ganhos até mesmo para pequenos investidores.












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