Enquanto a Argentina libera o uso de dólares, o Brasil os sobretaxa. Se eu fosse dinheiro, trocaria 'olá' por 'hola'
- Ricardo Gurgel

- 22 de mai.
- 4 min de leitura
Quase em sincronia: num dia, a Argentina apresenta as regras para a ampla regularização dos dólares guardados “no colchão”; no seguinte, o Brasil multiplica o IOF, imposto que incide também sobre a compra e venda da moeda norte-americana. O redirecionamento de divisas no Cone Sul torna-se inevitável. De um lado, um país que pune quem opera com ele; de outro, um que incentiva. Embora as proporções variem, diversas trocas de rota ocorrerão de forma perfeitamente previsível. A habilidade brasileira em assustar pelo caminho tributário contrasta com a nova cultura argentina de alívio fiscal em roteiros combinados. Revelam-se, assim, duas visões de mundo: numa, o dinheiro pertence ao indivíduo; noutra, pertence ao Estado e é usado conforme suas regras e valores morais.
Sou Ricardo Gurgel, engenheiro civil, e gostaria de compartilhar algumas visões que me chegam com clareza cristalina, e que me surpreende não serem percebidas por mais pessoas, especialmente por quem lida com as dinâmicas dos mercados. Mesmo reconhecendo que tanto o mercado brasileiro quanto o argentino não estão entre os gigantes globais, ambos representam portas de entrada para oportunidades e riscos que variam em intensidade e qualidade ao longo do tempo.
1. Argentina: incentivo à formalização dos dólares “guardados”
A medida anunciada pelo governo argentino — o chamado blanqueo — visa regularizar os dólares que estão fora do sistema bancário formal, conhecidos popularmente como “dólares do colchão”. Ao permitir que esses valores sejam trazidos à luz com alíquotas reduzidas ou incentivos fiscais, o governo:
Estimula a bancarização e circulação de capital parado.
Reforça reservas e liquidez interna sem recorrer a empréstimos externos.
Cria um ambiente de previsibilidade tributária e confiança no sistema.
2. Brasil: aumento do IOF sobre operações cambiais
Enquanto isso, o Brasil anuncia o aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) que incide também sobre transações com moedas estrangeiras. Isso significa:
Maior custo para comprar ou vender dólares legalmente.
Desincentivo às operações formais de câmbio.
Potencial estímulo à informalidade ou à busca por canais alternativos, inclusive via países vizinhos.
redirecionamento cambial regional
O efeito conjunto dessas medidas tende a gerar um efeito de redirecionamento de moedas dentro do Cone Sul:
Investidores, empresas e até turistas podem preferir operar com dólares na Argentina, onde há incentivo à formalização e menor carga tributária.
O Brasil, ao onerar transações legais, corre o risco de perder parte dos fluxos cambiais formais e incentivar rotas informais ou operações no exterior (inclusive em solo argentino).
Duas visões econômicas opostas
As decisões revelam um embate de filosofias econômicas:
Argentina acena para uma lógica de alívio fiscal e reinserção do capital privado ao sistema formal.
Brasil, por outro lado, reafirma uma lógica arrecadatória em nome do controle estatal, mesmo à custa de desestímulo à formalidade.
Esse descompasso pode alterar o equilíbrio cambial e financeiro regional e o Brasil, ao sobretaxar, pode estar involuntariamente exportando fluxo de dólares para seus vizinhos.
Contexto recente favorável à valorização de ativos argentinos
1. Sinalização pró-mercado e reformas estruturais
O “blanqueo” (regularização dos dólares do colchão) sinaliza uma tentativa do governo Milei de atrair capitais parados e reduzir a informalidade, o que tende a aumentar a liquidez e impulsionar setores financeiros e bancários.
Reformas fiscais e desregulamentações, mesmo controversas, mostram vontade política de reestruturar a economia com foco em eficiência e liberalização.
2. Estímulo à formalização do capital
A entrada de dólares informalmente guardados para o sistema bancário argentino pode fortalecer reservas, confiança no sistema e desempenho das empresas listadas.
Isso tende a favorecer setores como bancos, consumo e energia, que têm peso relevante no ARGT.

Minha aposta pessoal e sem sugestões do ETF ARGT / ARGT39
Composição Setorial (pode variar com o tempo, mas tende a incluir):
Globant, Mercado Libre, YPF, Grupo Financiero Galicia, entre outras grandes empresas argentinas.
Empresas com exposição internacional (como Mercado Libre e Globant) mitigam o risco local e aumentam o potencial de crescimento em cenários de recuperação.
Relação risco/retorno:
O ARGT teve momentos de alta forte em ciclos positivos, mas é um ETF mais volátil, ideal para quem aceita um pouco mais de risco em troca de possível valorização expressiva em cenário de reestruturação bem-sucedida da economia argentina.
Por que o ARGT39 pode ser interessante para mim
Diversificação regional: Para quem tem portfólio muito exposto ao Brasil, o ARGT39 é uma forma simples de incluir um ativo sul-americano com outra dinâmica macroeconômica.
Proteção cambial indireta: Como o ARGT é cotado em dólar, o BDR tende a se valorizar com o dólar alto — e eventuais instabilidades no Brasil podem impulsionar o dólar e valorizar o BDR, mesmo que o ETF fique estável em dólares.
A considerar!
Instabilidade política: Reformas do governo Milei enfrentam resistência política. Se forem barradas, podem frustrar o mercado.
Risco apenas meus
Eu tem motivos sim para pensar em ampliar posição no ARGT ou ARGT39, se:
Acredita na recuperação estrutural da Argentina;
Tolera volatilidade de curto prazo em troca de possível valorização futura;
Quer diversificar geograficamente com exposição a empresas relevantes da América do Sul.












Comentários