A TRANSAMÉRICA RIO pode se tornar a FOX NEWS Brasil?
- Ricardo Gurgel
- há 2 dias
- 6 min de leitura
Atualizado: há 23 horas
Fox News e seu modelo de rádio
A Fox News, especialmente após a vitória de Trump, deixou de ser apenas um canal do pensamento direitista americano e assumiu uma identidade claramente pró-Trump. Nenhuma rede de rádio ou TV nos EUA é realmente neutra ou imparcial; escolher um lado inevitavelmente significa optar por ter mais ou menos audiência. Isso não quer dizer que o lado com maior público seja mais ou menos intelectualmente honesto, trata-se simplesmente de uma estratégia de comunicação.O fato é que a Fox News domina o mercado, e por larga margem. Para o público brasileiro, pode soar estranho o quanto a Fox não hesita em explorar qualquer oportunidade, uma fala, uma declaração, uma opinião de concorrentes, para ridicularizar seus rivais. Não há suavidade em sua linha editorial. É, sem dúvida, uma fórmula arriscada, mas que funciona nos Estados Unidos.
Transamérica
A Rede Transamérica já teve sua era de ouro como gigante das FMs no Brasil, mas há algum tempo ocupa posições intermediárias, sem a mesma relevância em São Paulo, sua sede. Em 2025, mudou de mãos e passou ao controle de um novo grupo. Houve especulação de que poderia se alinhar com a CNN Brasil, especialmente em sua operação no Rio de Janeiro. Isso criou grande expectativa no mercado. No entanto, recentemente surgiram conflitos entre os sócios da CNN, e justamente um deles é a nova força controladora dentro da Transamérica. Não parece estar na linha editorial desse controlador adotar uma abordagem ao estilo Fox News no rádio. Ainda assim, se a nova direção optar por se afastar do modelo de baixa audiência da maioria das rádios all-news brasileiras, geralmente alinhadas a um pensamento antimercado, e adotar uma postura mais pró-mercado, poderia até superar a Jovem Pan News.Esse caminho se assemelharia à bem-sucedida experiência da Rádio Mitre em Buenos Aires ou da Fox nos EUA. Seria uma aposta em atrair o público fiel do all-news, que rejeita as linhas editoriais antimercado predominantes na mídia brasileira.
A Fórmula Mitre
A fórmula da Rádio Mitre pode ser ainda mais eficiente que a da Fox. Trata-se de jornalismo all-news pró-mercado, mas sem apoio incondicional a políticos. A emissora tem credibilidade para criticar tanto líderes de esquerda quanto de direita quando falham, sempre em defesa dos princípios de mercado. Essa capacidade crítica supera a da Fox e inspira maior confiança entre os ouvintes, que se ressentem de serem manipulados por vieses políticos. No Brasil, o público mais interessado em informação séria há muito recorre a fontes alternativas, justamente pela falta de opções nas grandes redes. A introdução de um modelo editorial semelhante ao da Mitre poderia preencher esse vazio.
Sobre a Fox News
Posicionamento de mercado
Fox News é percebida como pró-mercado, mas frequentemente se deixa contaminar por paixões políticas desnecessárias.
Estilo e tom de cobertura
Tom assertivo e confrontacional, com âncoras incisivos e linguagem direta que apela à emoção.
Tratamento de controvérsias
Age de forma agressiva, vista por apoiadores como coragem para enfrentar o establishment. Concorrentes mais cautelosos acabam acusados de proteger elites.
Audiência e impacto cultural
A rede de notícias a cabo mais assistida por anos, com forte lealdade doméstica, enquanto rivais desfrutam de maior presença internacional e acadêmica.
Uso de narrativas
Baseia-se fortemente na retórica “povo contra a elite”, ressoando com audiências que se sentem marginalizadas pelo establishment.
Números
Em 2025, a Fox News ampliou sua liderança. Em maio, cresceu 23% no horário nobre (2,46 milhões de espectadores), enquanto MSNBC e CNN caíram 24% e 18%. Seu principal programa, The Five, atingiu 3,77 milhões de espectadores. Na semana de 26 a 30 de maio, a Fox chegou a superar ABC, NBC e CBS na audiência do horário nobre.
O Impacto de uma “Fox News Brasileira”
Rompimento do consenso midiático: traria uma alternativa clara ao tom homogêneo e institucional da imprensa nacional.
Reação do establishment: políticos e grandes grupos reagiriam com hostilidade, o que poderia fortalecer a emissora como “voz independente”.
Redistribuição de audiência: atrairia o público que hoje consome podcasts, YouTube e redes sociais por falta de alternativas profissionais.
Maior polarização: daria voz a pautas frequentemente omitidas pela grande mídia, intensificando o debate público.
Transformação do jornalismo de transmissão: com painéis de opinião, editorialização explícita e apresentadores ideológicos, revitalizaria os formatos de debate das TVs a cabo.
No Brasil, Redes All-News Afastam o Próprio Público-Alvo
O Brasil está mal servido de emissoras all-news, tanto na TV quanto no rádio. Essa é uma conclusão óbvia. O público que realmente consome esse tipo de conteúdo tende a ser mais racional e objetivo, interessado em finanças e economia, com forte capacidade de filtrar o caos gerado por medidas populistas. Justamente esses filtros críticos estão em grande parte ausentes no jornalismo brasileiro, que frequentemente evita esse tipo de análise. A Fox traria um contraponto brutal ao jornalismo brasileiro, mas ainda assim não seria plenamente satisfatória. Sua postura, embora direta, nem sempre é intelectualmente honesta, pois frequentemente cai na mesma armadilha que critica: a obsessão em defender aliados e atacar adversários de forma incondicional. Já a linha da Mitre realmente atende às expectativas de um público exigente. Não se trata de ser o oposto político das emissoras brasileiras, mas de manter consistência e independência, sem bajulação a políticos e sem defesa cega de aliados. Essa é a diferença fundamental.
Adotar a bandeira FOX NEWS teria impacto brutal no mercado
Mas existe um fator de peso a se considerar: a força da marca FOX NEWS. Ela seria determinante para que o processo de impacto imediato e de chamada de atenção para se ouvir a emissora fosse absolutamente fora da média em comparação a qualquer outra estratégia de lançamento. Trata-se de uma variável fortíssima que afetaria tanto a captura de audiência quanto o interesse de anunciantes que já compreenderam a necessidade de alcançar um público constantemente recriminado por outras marcas de jornalismo. Seria uma forma ideal de atuação no Brasil, aproveitando-se da estrondosa força da FOX NEWS.
É um erro imaginar que a FOX seja uma marca jornalística desconhecida no Brasil, pois esse público de rádios all news é justamente o de maior escolaridade, com acesso a informações internacionais e intensa comunicação entre si. Esse fator representa um poder de difusão que serve para aglutinar audiência em torno de uma fonte, empoderando-a.
Não nego que, tendo conhecimento dessas informações, uma rádio com a marca FOX NEWS poderia agir com muito sucesso e qualidade, desde que utilizasse todo o padrão e a chancela da matriz, mas optasse por uma linha jornalística mais eficiente e coerente com o padrão da Rádio Mitre, continuando sua forte ação ideológica de emissora pró-mercado sem, contudo, ser partidária.
Não teria dúvidas: se tivesse que montar uma emissora ou criar uma rede de notícias no rádio, jamais apostaria em uma linha editorial antimercado. O público que gosta de rádio all-news é, em mais de 90%, favorável a um Estado menor, à liberdade de mercado e à redução de impostos. Entre os modelos da Fox News e da Mitre, não há dúvida real: o da Mitre é intelectualmente mais honesto. E é exatamente isso que esse público busca, ouvir a verdade. Eles não querem torcida ideológica, nem uma emissora sonhando em converter o país ao keynesianismo. A Argentina, nesse sentido, deve se orgulhar de ter uma rede como a Mitre, que combina credibilidade, espírito crítico e uma clara defesa do mercado.
Ser maior que a "Esquerda" e a "Direita"
Não preciso ser profeta para afirmar, sem qualquer receio nesta aposta, que, caso a Transamérica decida transformar uma de suas emissoras em uma rádio all-news de viés ideológico de esquerda, exatamente como já temos em abundância, será apenas mais uma entre tantas, dividindo um mesmo e pequeno pedaço de queijo. Não terá relevância nem construirá uma marca imponente.
Se, por outro lado, resolver ser uma emissora de direita apaixonada por partidos e políticos, cairá no mesmo erro: terá um espaço só seu, mas não atenderá ao verdadeiro propósito dos ouvintes que realmente apreciam rádios all-news, a defesa da redução do Estado, da diminuição de impostos, da ação pró-mercado, mas, acima de tudo, sem idolatria a figuras políticas que se autoproclamam seus defensores.
Como já comparei anteriormente, essa é a principal virtude da Rádio Mitre de Buenos Aires, campeã de audiência que não poupa críticas a falhas e corrupções de qualquer lado. Ser pró-mercado é, antes de tudo, otimizar a democracia, impedindo movimentos totalitários apaixonados por líderes e modelos autoritários como os da Venezuela ou da Turquia.
Portanto, levantar a bandeira de direita ou de esquerda não garante a defesa da democracia, muitas vezes, esses representantes escondem, atrás dessas cores, a verdadeira intenção: o controle intransferível do poder.
Vamos, Transamérica: seja pró-liberdades econômicas e individuais. Isso é muito mais nobre e superior do que simplesmente ser “de direita” ou “de esquerda”.
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