Streaming consegue comprovar ter mais de 300 mil espectadores simultâneos e aponta fórmula obvia para o rádio
- Ricardo Gurgel

- 27 de ago.
- 5 min de leitura
Não estamos falando de 300 IPs conectados, nem de incríveis 3.000 espectadores. Estamos dizendo que, diariamente, há um programa que, só na internet, reúne mais de 300.000 pessoas assistindo ao vivo, o que, ao longo de uma edição, soma mais de 1,5 milhão de pessoas diferentes que decidiram acompanhar o programa.
A fórmula é absolutamente óbvia no Brasil, e certamente funciona muito bem na maioria dos países do Ocidente: chama-se futebol. E essa audiência nem vem de uma transmissão de jogo decisivo, mas sim de um dia comum de comentário esportivo. Esportivo, mas restrito ao futebol: conversas sobre partidas, contratações, polêmicas, expectativas e especulações.
O programa Jogo Aberto, no YouTube, alcançou, no momento em que capturei a tela, 311.790 espectadores simultâneos. Houve uma época em que a audiência de streaming era apenas uma fração da do rádio ou da TV, até que os métodos de aferição recuperaram credibilidade. Hoje, nada supera, em termos de legitimidade, o contador visível no canto das transmissões ao vivo. E não falo apenas de TV: aqui em Natal todos sabemos quais são os programas mais populares pelos números que atingem no YouTube. Esse programa é originalmente realizado pela Rede Bandeirantes e, obviamente, sua exibição na TV é um grande motor para que a marca seja gigante. Pela praticidade, muitos dos seus espectadores habituais preferem assisti-lo pelo celular ou notebook. Trata-se de uma das maiores redes de TV do Brasil, um produto que todos os apaixonados por futebol reconhecem e acompanham. Não há como negar: é realmente um fenômeno extraordinário.

Mas quero também ser específico sobre um fenômeno que acontece em todo o Brasil: uma explosão de audiência no rádio entre 10h e 11h da manhã, com o programa Experiência de Deus, do padre Reginaldo Manzzotti. Milhares de emissoras replicam o sinal sem necessariamente fazer parte da rede original do programa, e essa é uma escolha delas, justamente pela difusão que ele proporciona. Aqui em Natal o fenômeno é facilmente percebido: por um período, a 98 FM transmitiu apenas o áudio pelo YouTube, e as respostas no streaming foram notoriamente gigantescas, ao mesmo tempo em que milhares acompanhavam diretamente pelo YouTube. Nenhum outro programa religioso local chegou perto dessas marcas. Outro exemplo é o Meio Dia RN com BG, que também se consolidou com milhares de espectadores e liderança reconhecida. O YouTube é incorruptível: expõe sem filtro a audiência real de quem transmite ao vivo e revela, sem piedade, o peso de cada programa.
Ingredientes mais fortes que a música no rádio
O futebol: historicamente associado ao AM, hoje é o ouro da audiência das grandes rádios brasileiras. Nenhuma emissora de peso o descarta; todas dependem dele de forma vital.
A religiosidade: não são as rádios que apenas tocam música gospel que lideram, mas sim aquelas com longas horas diárias de oratórias de padres, pastores e líderes espirituais. O público as escuta como quem recebe conselhos de sábios ou acolhimento de psicólogos, e os números são naturalmente altos.
A notícia: é o trunfo do rádio frente às plataformas musicais. O jornalismo opinativo, pró-mercado, com discurso de menos impostos e menos Estado, alcança maiores audiências que o padrão jornalístico dominante (mais estatista e intervencionista). Isso explica por que a Mitre AM 790, de Buenos Aires, supera até rádios FM, e por que a Fox News tem números muito superiores às concorrentes, geralmente alinhadas entre si e em oposição a ela. Aqui em Natal, o Meio Dia RN com BG também adota essa linha e supera concorrentes que tentam manter equilíbrio ideológico.
A explicação é clara: a formação jornalística tradicional brasileira, muitas vezes antimercado, pesa contra a captura de audiência. No Brasil, acabamos tendo uma grande quebra de audiência justamente em um dos setores que deveriam ser motores de popularidade no rádio, ao lado do futebol e da religiosidade.
Sobre o jornalismo com audiência e o jornalismo sem audiência
É até assustador como é simples perceber o quanto o público é majoritariamente masculino e pró-mercado. Tanto que, quando algum formato de programa atua nessa linha, acaba conquistando destaque de audiência sem grande esforço. Mesmo em um recorte local, como aqui em Natal, temos o programa Meio Dia RN com BG, comandado por Bruno Giovanni, assumidamente de direita e pró-mercado, que mantém maior sintonia com ouvintes que pensam de forma metódica, matemática e financeiramente consciente.
Para esse público, jornalistas influenciados pelo keynesianismo, associado ao chavismo e ao peronismo, são os últimos que merecem credibilidade. Para eles, esse tipo de linha editorial representa tudo aquilo que rejeitam. É duro, mas é a verdade.
YouTube: o novo termômetro de audiência
Durante décadas, no rádio e na TV, a medição de audiência esteve nas mãos de institutos de pesquisa. Eles criaram metodologias próprias, baseadas em amostras populacionais, questionários ou aparelhos de monitoramento instalados em algumas residências. Embora fossem aceitos como padrão de mercado, sempre existiu uma margem de dúvida: a amostra representava de fato a realidade? Havia espaço para manipulação ou distorção?
Com o avanço do streaming, e especialmente com o YouTube, surgiu um medidor em tempo real, transparente e incontestável. Na tela de qualquer transmissão ao vivo, um simples número no canto inferior indica quantos estão assistindo naquele exato momento. Não há mediação, amostra ou pesquisa de campo: trata-se de um contador automático, auditável por qualquer pessoa.
Institutos de pesquisa:
Trabalham com amostras estatísticas (que podem ou não refletir o total).
Dependem da confiança no método e no contratante.
O público em geral não tem acesso ao processo, apenas ao resultado final divulgado.
YouTube:
Mostra a audiência em tempo real, visível para todos.
Dispensa intermediários, trazendo transparência absoluta.
É atualizado segundo a segundo, refletindo oscilações naturais de interesse.
Assim, o YouTube passou a ser considerado, pelo público e até por profissionais do setor, um “atestado incorruptível de audiência”.
O impacto no rádio e na TV
Programas de rádio e TV que migraram para transmissões simultâneas no YouTube agora convivem com esse espelho implacável. Não importa o prestígio da marca, a tradição da emissora ou os contratos publicitários: o número de pessoas conectadas ao vivo denuncia, sem filtro, a relevância real do conteúdo.
Isso gera alguns efeitos:
Constrangimento para quem inflava números com base apenas em institutos.
Fortalecimento de quem consegue engajar multidões online, pois os números estão expostos e incontestáveis.
Mudança na percepção de credibilidade: enquanto a pesquisa tradicional virou “opinião”, o YouTube virou “prova documental”.
O futuro da aferição
O YouTube, ao lado de outras plataformas digitais, está redefinindo o padrão de credibilidade da audiência. Enquanto institutos ainda são importantes para oferecer recortes demográficos e análises qualitativas, a quantidade bruta de espectadores já não precisa ser estimada, ela está à vista de todos.
Por isso, na percepção popular, o número visível no YouTube tem mais peso do que qualquer gráfico divulgado por institutos. Ele se tornou o novo carimbo de relevância no ecossistema da mídia.












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