Audiência de TV argentina no YouTube é quase dez vezes maior que a CNN Brasil
- Ricardo Gurgel
- há 4 dias
- 3 min de leitura
A TN (Todo Noticias), emissora de notícias do Grupo Clarín, registrou, na manhã de sábado, 92 mil espectadores simultâneos, enquanto, no mesmo horário, a CNN Brasil tinha menos de 10 mil espectadores, é um comparativo flutuante, claro, mas o recorte deste dia e horário impressiona!


Emissoras de notícias têm dias “fora da curva”, quando eventos provocam picos de audiência – algo até esperado –, mas, no dia a dia, em outros horários, a comparação entre a TN argentina e a CNN Brasil mostra que se tornou rotina a emissora de Buenos Aires ter muito mais público. Para entender essa situação, é preciso mencionar a qualidade jornalística da Rádio Mitre 790 AM, também do Grupo Clarín. Apesar da menor qualidade de áudio em relação às FMs e da maior sensibilidade a interferências, ela é a rádio mais ouvida na capital e no país, muito à frente das concorrentes, inclusive das FMs. Sobre sua programação e sobre como se diferencia da CBN em qualidade de análise, comento no post:
“AM de notícias, líder com larga vantagem, tem base no público pró-mercado” (https://www.blogdorg.com.br/post/am-not%C3%ADcias-em-1%C2%BA-lugar-em-buenos-aires-com-larga-vantagem-foco-no-publico-pr%C3%B3-mercado).
A TN chega a ter quase dez vezes a audiência da CNN Brasil no YouTube – e não por acaso. Seu nível de análise é mais rico, profundo e distante do padrão brasileiro, em que as opiniões tendem a ser praticamente iguais em todos os canais. Na Argentina há emissoras fortemente kirchneristas que não escondem sua linha e recorrem aos argumentos mais inusitados para defender seu ponto. A TN, porém, é realista: critica – positiva ou negativamente – com base nos fatos, não no partido de origem dos fatos. Assim, mantém maior rigor e evita paixões, diferentemente do canal La Nación, que, sem fantasiar, não hesita em xingar políticos que considera nefastos. Admito assistir mais a La Nación justamente por não polir suas críticas.
A audiência elevada no YouTube indica que, em outras plataformas, o público também é proporcionalmente grande. Por isso, é fácil imaginar qual canal de TV lidera nos próprios televisores, tomando por base o gigantismo que o YouTube exibe. Não há instituto de pesquisa mais convincente aos olhos dos anunciantes argentinos, que não se atrevem a duvidar da liderança da TN frente aos demais canais de notícias – um sucesso que repete a trajetória da Mitre 790 no rádio.
Na mesma manhã, também superavam a CNN Brasil em audiência no YouTube os canais argentinos C5N, A24 e La Nación+. Ainda assim, a TN tinha mais de três vezes o público do C5N, segundo colocado.
Por que os canais jornalísticos brasileiros marcam “traço” de audiência?
A seguir, apresento minha percepção pessoal, não uma verdade universal, conto sobre como essas redes soam à minha audiência:
Análises engessadas, padronizadas e consensuais numa única direção; pouquíssimos canais promovem choque de argumentos.
Recurso frequente a especialistas acadêmicos, os famosos “especialistas da USP”, para confirmar a linha editorial desejada.
Rotulagem de todo um espectro de pensamento político como “extrema”, independentemente da gradação do discurso.
Críticas contundentes ao lado oposto são evitadas; o adorno “extrema” nunca é usado para esse lado.
Determinadas matérias são ignoradas por aparente cálculo político.
Livre-mercado, mundo empresarial e empreendedorismo costumam ser tratados como vilões; quando defendem investimentos e crescimento empresarial, a postura parece protocolar, quase publicitária, para simular isenção ideológica.
A opinião de praticamente todos os jornalistas é previsível em conteúdo e inclinação.
Por que o jornalismo das redes argentinas floresce?
Novamente, minha percepção:
Em todos os programas, apresentadores são hábeis comentaristas; geralmente há vários analistas competentes, tanto na TN quanto na La Nación ou na A24. O C5N aposta na paixão peronista: não é o canal mais elucidativo, mas mantém um público numeroso e também conta com comentaristas habilidosos para os necessários “desdobramentos” das notícias.
Assumem, sem rodeios, apoio a uma economia mais livre e tratam o empreendedorismo com respeito, não apenas em frases publicitárias; cobram ações que façam o motor econômico funcionar e questionam medidas que prejudiquem setores produtivos.
Raramente recorrem a especialistas universitários como fonte principal; priorizam especialistas atuantes na área, sem alinhamentos partidários.
Confrontam entrevistados e especialistas de forma contundente, especialmente quando surgem contradições evidentes.
Os filtros de vocabulário são menos restritivos.
A diversidade de opinião entre apresentadores e programas é comum e, ainda assim, muitas vezes de alto nível.
Profundidade de análises.
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