O AM morreu com honras
- Ricardo Gurgel
- 14 de mar.
- 3 min de leitura
Atualizado: 3 de mai.
Já não é mais permitido conceder novas licenças para rádios AM locais. Na prática, o Brasil desligou o sistema. Mas ofereço duas formas de comunicar esta morte...
Aos amantes do rádio, ofereço a RESPOSTA POÉTICA:
O rádio AM teve um papel belíssimo na história da comunicação mundial. Será lembrado com carinho e saudade como um tempo que brilhou intensamente. Foi protagonista de momentos marcantes, formou gerações, atravessou fronteiras e uniu o país com sua sonoridade inconfundível.
Mas, se estivéssemos em uma reunião antes do prazo da Anatel com um proprietário de rádio AM hesitante em migrar para o FM, eu daria a RESPOSTA REALISTA:
O rádio AM acabou. Hoje, praticamente todos os municípios brasileiros são cobertos por pelo menos uma emissora FM — com qualidade de áudio infinitamente superior a qualquer AM que já existiu. E a cobertura da internet continua avançando rapidamente, inclusive nas áreas rurais.
Se um sítio for tão isolado que nem FM nem internet cheguem, o que talvez alcance o local — se alcançar — será uma AM distante, vinda do Rio ou de São Paulo, com conteúdo fora da realidade local e um som instável, que vai e volta, sofrido.
Hoje, com um aplicativo de rádios é possível ouvir qualquer rádio do mundo, de qualquer lugar. E mesmo o público mais velho, que seria teoricamente o último a manter o hábito de ouvir AM, já está no WhatsApp, já usa smartphone, e muitos já têm o RadiosNet ou Radio Garden instalado e com um chip de sua operadora e seu plano dados ouve sem outros custos, se for um isolamento radical a opção de uma conexão via Starlink! Circular o globo era o diferencial do sinal AM, agora não mais.
Manter uma estação AM não exige apenas coragem — exige muito dinheiro para sustentar uma estrutura cara, obsoleta e de manutenção complexa. A migração para o FM, além de ser uma decisão técnica e estrategicamente acertada, tem sido a salvação financeira de muitas emissoras.

Exemplo real: CBN Natal
Antes da migração para o FM, a CBN Natal enfrentava sérios desafios. O sinal em AM era fraco e instável: não alcançava estacionamentos de shoppings e supermercados, oscilava perto de redes elétricas de alta tensão e, em cidades a apenas 20 km do transmissor, até a luz fluorescente dentro das casas interferia na recepção. No fim das contas, o mercado que realmente importava para a CBN Natal não era uma cidade pequena a 500 km de distância, onde o áudio era precário — para esse público, o streaming já resolvia o problema.
A transformação no ar
A mudança para o FM marcou uma virada. Após a migração, o sinal passou a cobrir shoppings e estacionamentos sem interrupções, e a qualidade do áudio se tornou agradável e confiável. Para regiões mais distantes, o streaming — viabilizado pela popularização da internet e o uso crescente de aplicativos como o RádiosNet — complementa a cobertura com eficiência.
O AM teve uma história linda, assim como os discos de vinil — eras encantadoras que deixaram saudades. Mas, do ponto de vista mercadológico, essa bela época se transformou em uma nostalgia respeitável e venerada.
Ainda há esperança técnica — um futuro digital?
O AM pode até voltar um dia, mas como faixa para rádios digitais. Seria o melhor retorno possível: com áudio de altíssima qualidade, começando em um espectro limpo e permitindo o nascimento do rádio digital no Brasil sem traumas. Falo mais sobre esse sonho neste artigo: Mais de dez anos perdidos: o fracasso do HDRadio em um Brasil ainda sem rádio digital
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