Rádios comunitárias (EUA) x rádios comunitárias (Brasil)
- Ricardo Gurgel
- 18 de abr.
- 4 min de leitura
Atualizado: 3 de mai.
Sim, existem rádios comunitárias nos Estados Unidos da América, e em muitos aspectos elas se assemelham às nossas RadCom brasileiras. No entanto, há também diferenças significativas entre os dois modelos.
Características das rádios comunitárias no Brasil:
Potência máxima: 25 watts (ERP - Potência Efetiva Irradiada)
Alcance estimado: cerca de 1 km de raio (variando conforme o relevo e condições técnicas)
Altura da antena: limitada a até 30 metros acima do nível do terreno
Frequência de operação: geralmente em 87,5 MHz, 87,7 MHz, 87,9 MHz e 104 MHz
Essas rádios são voltadas exclusivamente para a comunidade local e operadas por associações sem fins lucrativos, conforme estabelece a Lei nº 9.612/1998.
Características das LPFM nos Estados Unidos:
Nos EUA, as rádios comunitárias são chamadas de LPFM (Low Power FM), ou FM de baixa potência. Suas principais características são:
Potência máxima: 100 watts (ERP)
Alcance estimado: até 5,6 km (3,5 milhas) de raio
Altura da antena: também limitada a 30 metros acima do terreno
Pontos em comum entre Brasil e EUA:
Apesar das diferenças técnicas, ambos os modelos compartilham princípios semelhantes, especialmente em relação ao caráter comunitário e educativo:
Nos EUA:
É proibida a publicidade comercial
É permitido o patrocínio institucional com menções limitadas (sem chamadas promocionais)
O conteúdo deve ser educativo ou de interesse comunitário
LPFM (EUA)
No Brasil:
Somente associações sem fins lucrativos podem operar rádios comunitárias
A entidade deve representar a comunidade local
É exigida a participação da comunidade por meio de um conselho gestor
Limites rígidos e muito parecidos:
Lá e cá existem restrições extremamente rígidas que limitam significativamente o potencial promocional das abordagens comerciais, com o claro objetivo de eliminar qualquer caráter comercial das LPFMs e das Radcoms. Um exemplo disso é a proibição — ainda que teórica — de divulgar que um supermercado oferece as melhores promoções ou os melhores preços, além da vedação explícita à menção de valores. Esses elementos acabam inibindo a competitividade dessas pequenas FMs em relação a outros meios de comunicação.
Desafios das rádios comunitárias no Brasil
Montar e manter uma rádio comunitária legalizada no Brasil é um processo longo, burocrático e não lucrativo por definição. Mesmo que muitos gestores tentem fazer disso um negócio sustentável, dificilmente conseguem, não apenas por conta da proibição legal de publicidade comercial, mas também pela dificuldade real de obter receita.
Com a popularização da internet, até mesmo pequenas cidades — onde antes a RadCom era a única emissora — passaram a dividir a atenção do público e o orçamento da comunicação com carros de som, influenciadores digitais e redes sociais. Por isso, para sobreviver e se manter relevante, muitas rádios comunitárias precisam diversificar sua atuação e ampliar sua presença digital.

⚠️ Pontos críticos da realidade das rádios comunitárias:
Limitações Financeiras
A proibição de publicidade comercial restringe as fontes de receita
O apoio cultural tem regras rígidas e pouca flexibilidade
A maioria sobrevive com recursos voluntários e doações locais
Alcance Limitado
Potência de apenas 25 watts, com alcance muito reduzido
Dificuldade para cobrir toda a comunidade, especialmente em áreas urbanas ou montanhosas
Infraestrutura precária
Equipamentos antigos ou improvisados
Falta de estúdios adequados, isolamento acústico e manutenção técnica
Falta de Capacitação
Ausência de formação técnica e de gestão entre os voluntários
Carência de conhecimento em produção, jornalismo, operação de equipamentos e legislação
Burocracia e Exigências Legais
Processo de outorga e renovação de licença é demorado e complexo
Fiscalizações frequentes da Anatel podem levar a advertências ou fechamento
Interferência e Disputa por Frequência
Conflitos com rádios piratas ou outras emissoras próximas
Disputas entre entidades locais pelo controle da frequência
Falta de Apoio Institucional
Pouca visibilidade por parte de governos e mídia tradicional
Ausência de políticas públicas consistentes para fomento e financiamento
Desafios Digitais
Dificuldade de adaptação a plataformas online (web rádio, redes sociais, streaming)
Falta de acesso a internet de qualidade ou equipamentos atualizados
E a própria concorrência com estes meios
No Brasil a abordagem é:
Apenas associações sem fins lucrativos legalmente constituídas
A entidade precisa representar a comunidade local
É exigido o apoio da comunidade e a participação de representantes da sociedade no conselho gestor
Quadro resumo:
Dificuldade | Descrição | Soluções Possíveis |
Limitações financeiras | Não podem veicular publicidade comercial | Buscar apoios culturais locais, fazer parcerias com comércios e eventos |
Alcance muito limitado | Apenas 25 watts, cobre cerca de 1 km | Criar web rádio paralela ou retransmissão digital (YouTube, app, redes sociais) |
Infraestrutura precária | Equipamentos velhos, falta de estúdio adequado | Campanhas de vaquinha, doações técnicas, parceria com escolas/técnicos voluntários |
Falta de capacitação | Voluntários sem formação em rádio/comunicação | Oferecer oficinas gratuitas, buscar mentorias com rádios universitárias |
Burocracia legal | Processo de outorga e renovação complicado | Apoio jurídico voluntário ou de universidades, cartilhas de orientação |
Interferência e pirataria | Conflito com rádios piratas ou comerciais | Atuar em redes de rádios comunitárias, denunciar interferências, registrar tudo |
Falta de apoio governamental | Pouco incentivo público à radiodifusão comunitária | Mobilizar a comunidade, organizar eventos para mostrar o impacto social da rádio |
Dificuldade de adaptação digital e concorrência com influencers | Não é um ponto geral, mas ainda ocorre | Usar ferramentas gratuitas (Anchor, Facebook Live), treinar jovens da comunidade e concorrência de preços de postagens e stories |
As rádios comunitárias são regulamentadas pela Lei nº 9.612/1998
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