Portugal fez piada, mas a realidade piscou de volta: 'Welcome to Groenlândia do Sul'
- Ricardo Gurgel
- 10 de mai.
- 4 min de leitura
O Brasil começou, não tem como negar, chamando Portugal de "Guiana Brasileira", "Pernambuco em Pé", "Rio Grande de Fora", "Mato Grosso do Norte"! E os portugueses, por sua vez, criaram nomes ainda mais criativos para zombar do Brasil. Eles nos jogam no colo toda a carga da influência dos Estados Unidos e chegam a dizer que estamos sendo colonizados por eles. Já começaram a nos chamar de "Havaí que é tua, Tafarel", "Missisítio do Pica-Pau Amarelo", "Novo Novo México"... praticamente insinuando que somos um puxadinho dos EUA!
Aí me aparece uma notícia estranha, mas que se espalha por diversos meios de comunicação, com um tom que lembra Trump reivindicando território: blogs e rádios noticiando o suposto interesse americano (de Trump, mais precisamente) em usar sem restrições a base aérea de Natal. Os argumentos apresentados giram em torno dos "massivos investimentos" feitos na região, usada como base avançada dos EUA. Durante a Segunda Guerra Mundial, a base foi palco de intenso movimento de aviões aliados, servindo como entreposto fundamental quando os Estados Unidos entraram de vez na guerra. Natal cresceu muito nesse período, e a base foi construída em grande parte com dólares americanos: instalações, pistas de pouso... Foi um tempo em que a cidade ganhou uma identidade diferenciada pela forte presença militar americana, que trouxe dinheiro, costumes e deixou descendência. O entorno da base se transformou na atual cidade de Parnamirim, colada a Natal e hoje a segunda maior do estado.
Continuamos sendo a "esquina do continente", uma localização dita como estratégica, mas nunca realmente aproveitada por nenhum presidente desde a guerra como um hub entre continentes. Essa função foi redirecionada para cidades maiores como Recife e Fortaleza. E aí, de repente, aparece Trump. Se esse interesse for mesmo real, só pode ter partido da cabeça dele, pensando: “Quero aquela base que a gente construiu no Brasil durante a Segunda Guerra.”
E por mais surreal que pareça, a possibilidade de que os Estados Unidos realmente queiram controle da base aérea de Natal não é tão absurda assim, considerando atitudes anteriores, como a proposta de compra da Groenlândia, que parecia piada, mas era séria. No caso de Natal, não há intenção de anexar a cidade, mas sim de utilizar a base, possivelmente sem permitir qualquer interferência brasileira. A instalação funcionaria como um "Gibraltar americano", ou uma "Guantánamo sem prisioneiros". Por mais que soe conspiratório, é uma especulação coerente com a cabeça de quem já manifestou desejo de anexar o Canadá e a Groenlândia.
A questão é que o governo brasileiro não demonstra qualquer simpatia por Trump, e mesmo que demonstrasse, não faria sentido permitir a posse e o uso de território nacional por um país estrangeiro, o que poderia atrair inimigos ao Brasil sem qualquer ganho relevante para nós. Não vale o risco, nem a marca de perda de soberania. Por mais que os americanos aleguem ter construído a base, não se extrai território de um país só porque houve construções financiadas por outro. E a base atual não é nem sombra do que foi em seu auge na Segunda Guerra: passou por reformas, demolições, novas edificações... Natal foi sim importante para os americanos, mas também foi beneficiada. Há uma quitação histórica entre os ganhos dos dois lados. E vale lembrar: o que os EUA construíram aqui foi para vencer sua própria guerra. Natal foi sorte para eles — não dívida nossa.
Ocupação hostil ou acordo binacional?
Essa é uma questão complexa. Tudo indica que os EUA gostariam que parecesse um acordo. Mas se não for possível, a sensação é de que forçariam mesmo assim. Não estou afirmando que isso vai acontecer, é especulação plausível dentro da lógica de comando de Trump. É improvável imaginar que Brasil e EUA cheguem a um entendimento sobre isso, principalmente com a distância ideológica entre os governos. Nosso país hoje tem relações mais próximas com nações rivais dos americanos, e é possível que a China apoie uma resistência à proposta dos EUA, talvez até com Putin oferecendo parcerias na área energética.

O Brasil pode acabar no meio de um cabo de guerra. Mesmo sem gerar conflito direto, pode forçar o país a se posicionar, o que traria consequências na geopolítica regional. É o tipo de situação que pode transformar o Brasil em palco de uma nova mini-guerra fria, sendo disputado como aliado ou usado como base estratégica.
Deixo aqui o link da matéria publicada por um site confiável, com as primeiras informações: EUA articulam acesso estratégico a Fernando de Noronha e Natal sob alegação de direito histórico e investimento bélico (https://www.blogdobg.com.br/eua-articulam-acesso-estrategico-a-fernando-de-noronha-e-natal-sob-alegacao-de-direito-historico-e-investimento-belico/)
Não sou contra os Estados Unidos nem rejeito a influência dos filmes americanos nos cinemas brasileiros. Consumo muitos produtos deles, e grande parte da tecnologia que usamos diariamente é americana. A influência cultural é, em certa medida, uma escolha individual, e não cabe a mim criticar os outros por isso. Seja pela cultura ou pela tecnologia, temos contato constante com produções americanas. O que queremos é o fim das guerras e das tarifas. O Brasil não está em posição de criticar Trump, que parece seguir o exemplo do protecionismo brasileiro, taxando produtos estrangeiros que antes eram acessíveis. Esse protecionismo, mesmo que aplicado de forma moderada, só encarece o que é bom e reduz o poder de compra da população, sem trazer benefícios reais.
Commentaires