Conhecendo a própria audiência
- Ricardo Gurgel

- 9 de out.
- 4 min de leitura
Amostragem focada nos ouvintes engajados
Quando se pensa em formatações mais práticas para coletar informações de utilidade para uma emissora, umas das maneiras mais diretas é utilizar das próprias redes e perguntar, vale ressaltar que quando usamos as próprias redes estamos basicamente nos comunicando com aqueles que já são ouvintes e em boa parte já têm uma identificação com a emissora que segue, claro que muitos dali segue tanta a emissora quantos outras concorrentes, principalmente as que são similares em termos de programação, por isso não é uma perda de tempo tentar compreender melhor esse planeta que contém os ouvintes fiéis e "infiés" no próprio Instagram, "rede X" ou Facebook da rádio.
Qualitativamente úteis, mas representam basicamente os ouvintes mais engajados, boa parte dos ouvintes de menor escolaridade evitam quaisquer formulários, principalmente com perguntas abertas nas quais evitam demonstrar falhas na escrita, ou até mesmo incompreensão das perguntas, muitos dos ouvintes apenas ignoram a retenção de sua navegação para responder formulários, e estes são os com as melhores críticas, com maior utilidade para a emissora, mas também existem aqueles que gostam mesmo ser a voz da opinião e isso não significa que não serão sinceros, na verdade é bem provável que sejam mesmo, sim, existe muita coisa que se pode aproveitar em um levantamento assim
Viés de auto-seleção
Os ouvintes mais engajados tendem a participar mais, ao contrário de pesquisas que segmentam e ponderam faixas representativas de idade, classe social, sexo e outras variáveis. Nesse caso, o próprio ouvinte escolhe participar da entrevista, o que atrai principalmente os mais “aficionados”.
Esse tipo de avaliação reflete a percepção dos ouvintes engajados, mas não de toda a audiência. A audiência mais flutuante, que a rádio busca conquistar, geralmente ignora formulários de participação, pois não tem fidelidade. É dessa parcela que surgem as críticas mais valiosas, cujas análises podem gerar hipóteses e ações para melhorar a audiência.
Outras modalidades
Já uma pesquisa de campo tem muito mais a busca de uma visão geral de mercado, podendo incluir avaliação de concorrentes, tem o poder de olhar até aqueles que não são ouvintes até então da emissora, indetectáveis em pesquisas feitas em canais digitais próprios da emissora, podem verificar a eficiência de fórmulas utilizadas por concorrentes e como seduzir nova audiência
Onde no mundo o jornalismo é grande campeão de audiência: que público o ama?
O público mais apaixonado por consumir notícias costuma apresentar, em qualquer levantamento, um perfil predominantemente masculino e pró-mercado. Isso, no entanto, não significa que seja necessariamente partidarizado. Ao contrário, tende a rejeitar a contaminação político-partidária, mesmo quando a inclinação ideológica do jornalista ou comentarista se aproxima da sua, sobretudo se este se prende a argumentos movidos por paixões partidárias durante a transmissão. Esse público valoriza análises neutras e profundas, sendo perfeitamente capaz de aplaudir críticas ou elogios fundamentados a agentes públicos.
O problema é que, de forma generalizada no Brasil, muitos jornalistas já se apresentam com uma posição previsível: sabe-se de antemão a quem irão aplaudir e a quem irão vaiar diariamente. Seus argumentos acabam funcionando como ajustes retóricos rotineiros, moldados para defender aliados e atacar adversários.
Em média, o consumidor de jornalismo é favorável a melhor gestão do Estado, à redução de desperdícios e à desburocratização. Busca programas de alta neutralidade partidária, capazes de avaliar os temas pelo mérito, e não pela autoria política. Como isso é raro, muitas vezes se recorre ao embate de dois lados. Contudo, o efeito não é o mesmo que ouvir uma análise sem “cores”. Mesmo setores da direita, que tentam capturar essa bandeira, frequentemente contradizem os próprios princípios esperados pelo público, já que vários partidos “conservadores” também defendem aumentos de gastos públicos.
Um fenômeno comum em várias partes do mundo
Esse padrão de público preferencial se repete em diferentes países e culturas. Nos Estados Unidos, por exemplo, a Fox News explica boa parte de sua ampla liderança na TV a cabo. Em 2025, manteve margens históricas: 65% de audiência total no primeiro trimestre e 66% no horário nobre, superando CNN e MSNBC em proporções de 3 a 4 vezes. Apesar do sucesso, a Fox News está longe de ser um modelo de imparcialidade, justamente aí reside um de seus maiores pontos fracos.
Em Buenos Aires, a liderança pró-mercado da Radio Mitre AM
Na Argentina, a Radio Mitre se destaca por não demonstrar alinhamento cego a partidos. Denuncia desvios de qualquer legenda e não evita perguntas incômodas, seja ao governo, seja à oposição, sua determinação é sempre crítica do populismo que pode vir da direita ou esquerda, por isso seu fortalecimento. Comparativamente, sua postura jornalística mostra-se bem mais equilibrada do que a da Fox News.
Segundo levantamento da Kantar Ibope Media (junho–agosto de 2025):
Radio Mitre: 31,26% de share (oposicionista ao peronismo)
Radio 10: 15,47% (peronista/kirchnerista)
Rivadavia: 14,17% (oposicionista)
La Red: 14,14% (perfil híbrido, com jornalistas de diferentes linhas em horários distintos)
El Destape AM 1070: 8,3% (peronista/kirchnerista)
Fidelidade: entre 70% e 80% dos ouvintes são “habitualistas”, isto é, escutam diariamente.
Perfil etário: audiência madura (35+), fortemente identificada com o formato de “rádio falado”.
Destaque: o jornalista Eduardo Feinmann, com picos de cerca de 300 mil ouvintes em seu programa Alguien tiene que decirlo (06h–10h).
Fica evidente
Aqui salta aos olhos uma realidade brutal sobre a massa ouvinte do jornalismo e prefiro não me alongar muito nesse ponto. É algo tão evidente que dispensaria maiores explicações. Quanto às pesquisas, o que realmente completará a receita será a realização de diferentes levantamentos, aplicados por métodos distintos. Uma meta-análise, reunindo e confrontando esses resultados, pode se tornar um verdadeiro oráculo para responder a diversas e importantes questões que, se não forem perseguidas com seriedade, acabarão se perdendo na ignorância e com elas, a própria emissora poderá se perder, sem rumo.











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