Argentinos compram o Brasil
- Ricardo Gurgel
- 4 de mai.
- 3 min de leitura
Atualizado: 4 de mai.
Peso Argentino
O Peso Argentino vem se livrando das características de moeda instável e, não só isso, como também anda se atrevendo a ser uma moeda regionalmente forte. Isso o transforma em um poderoso instrumento de compras, e países próximos se tornarão alvo do "assédio" de compras argentinas. Desde o poderoso ajuste de controle de gastos e a consequente redução da emissão monetária, iniciados no final de 2023, a política de geração de moeda "do nada" foi sendo deixada para trás. A moeda em circulação começa e fica compatível para trocas mais fortalecidas, e o país passa a ter reservas que permitem trocas de pesos não traumáticas com dólares e outras reservas de valor, garantindo a segurança do papel-moeda local sem sobressaltos. Gradativamente, a Argentina tanto vai se acostumando com preços estáveis quanto começa a perceber o crescimento do salário em dólares, base de alinhamento para a maior parte dos países do mundo. Acontecendo isso, é como se, de uma vez só, vários produtos externos ficassem mais baratos de acordo com a valorização do peso.
A valorização do peso argentino
Se você pesquisar a curva do peso argentino frente ao real, talvez encontre informações distorcidas, fruto das maquiagens cambiais e do CEPO (controle de câmbio) argentino, um travamento que impedia qualquer transparência cambial ou crescimento econômico. Pelos gráficos oficiais, pode até parecer que o peso perdeu valor. Mas, na realidade, o peso "valorizado" era fruto de manipulações, mais funcionais como um “photoshop cambial”. O melhor indicador do verdadeiro valor do peso era a cotação frente ao dólar blue (mercado paralelo), que não era controlado pelo governo e refletia a realidade.
Enquanto houver "gap" de preços entre Argentina e Brasil, o Brasil atrai
Enquanto a reforma tributária está travada na Argentina, o Brasil se torna uma alternativa muito barata para turismo e eventos. Um exemplo recente foi a nova “invasão” do Rio durante o show da Lady Gaga, certamente com mais argentinos do que no show da Madonna um ano antes. O Brasil virou aquela viagem que sai mais barato que comprar um iPhone aqui: vale mais a pena ir a Miami e voltar com o aparelho.
A queda de preços
Com a estabilização do peso, a Argentina começa um processo de redução de impostos federais. Mas há algo que pode atrasar a queda de preços: no país, municípios e províncias têm autonomia facilitada para criar ou aumentar alíquotas de taxas e impostos. Assim, quando o governo federal reduz um tributo sobre o produto "X", o município pode aumentar outro imposto sobre esse mesmo item. Reduções reais nos preços só devem ocorrer após as eleições legislativas, com a renovação do Congresso — que pode aprovar mudanças para limitar o abuso fiscal. O atual presidente argentino, seguidor da escola austríaca de economia (inspirada por Ludwig von Mises), defende liberdade econômica, redução do Estado, do gasto público e da carga tributária.
Colônia argentina em Pipa
A presença argentina em Pipa (RN) não é novidade. Muitos argentinos moram lá há anos. Ironicamente, chegaram por motivos opostos aos dos novos visitantes. Os antigos moradores fugiram da derrocada econômica causada pelo populismo peronista e ampliada pela “dinastia” Kirchner — incluindo Néstor, Cristina, Alberto Fernández (mesmo contra sua vontade, nas mãos de Cristina) e Sergio Massa. Esses governos afundaram a Argentina com receitas fracassadas do keynesianismo. Já os visitantes atuais vêm como turistas bem dolarizados, não como retirantes em busca de uma vida melhor.

E se o Brasil continuar desvalorizando sua moeda?
Pode virar uma terra de oportunidades para os argentinos. É claro que apostar em um país com riscos de instabilidade econômica é sempre perigoso. Mas, para um argentino, as turbulências do Brasil são quase marolas. Estão acostumados a enfrentar crises brutais e chegam aqui preparados, como atletas treinados. Com fontes externas de renda e poder de compra elevado, veem na crise brasileira uma chance única. Setores como o imobiliário, o hoteleiro e outros tantos podem acabar com donos argentinos.

Quando começaram as compras?
Desde sempre. Em um movimento natural entre nações vizinhas, o intercâmbio comercial e humano sempre existiu. Eles sempre estiveram aqui, aproveitando e comprando. E não vejo nada de negativo nisso. Sou favorável ao encontro de culturas, à convivência global e ao respeito mútuo. O que podemos experimentar agora é um crescimento dessa presença — se as trajetórias econômicas opostas se mantiverem. Nesse cenário, veremos cada vez mais argentinos enriquecendo e, sim, comprando o Brasil.
Principais ajustes e impactos que turbinaram a força do PESO ARGENTINO:
Controle de gastos e redução da emissão: Fim da geração excessiva de moeda, estabilizando a circulação.
Aumento das reservas: Maior segurança para a conversibilidade do peso e estabilidade cambial.
Preços mais estáveis: Redução da inflação e maior previsibilidade econômica.
Crescimento do salário em dólares: Aumento do poder de compra da população.
Produtos importados mais baratos: Estímulo ao consumo e novas dinâmicas comerciais.
Potencial de compra regional: Países vizinhos como foco do poder aquisitivo argentino.
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