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WORKSHOP RÁDIO DIGITAL - A contribuição para o debate da ZYDIGITAL

Tarifa sobre importados não ajuda a indústria, deixa os industriais montados em nossas costas

Brazilian Engineer Ricardo Gurgel: In Brazil, digital radio will start on AM

A China é mais capitalista que o Brasil

Atualizado: 4 de mai.

Não tem como deixar de reconhecer a China como um país que promove, em larga escala, a propriedade privada, o acúmulo de bens e capitais, a liberdade de criar meios de produção, o estímulo à livre iniciativa, a pesquisa industrial e a permissão do lucro como recompensa, muito mais do que o Brasil, nos principais aspectos que caracterizam o capitalismo. É inegável que, pontualmente, o governo chinês pode agir com forte controle sobre uma empresa, por motivos militares, estratégicos ou como retaliação política, buscando evitar que algum executivo bilionário se aventure a opinar sobre liberdades políticas no país. Ainda assim, mesmo com essas ações pontuais, é impossível não perceber o exercício da poderosa mão do controle estatal.

A China é um país fantástico. Não é piada ou ironia dizer que muitos dos sonhos capitalistas são realidades de alto nível por lá. Carros elétricos modernos, elegantes, com muita tecnologia embarcada, vendidos por valores mais baixos e com mais concorrência do que em boa parte do mundo. A China hoje tem a mesma imagem que o Japão construiu no imaginário global nos anos 1980 e 1990: um polo de avanço tecnológico acessível ao público.

A arquitetura e a engenharia dos arranha-céus são talvez o símbolo mais evidente do capitalismo — tanto que muitos ideólogos passam a vida lutando contra o concreto e a verticalização. E, ironicamente, o maior símbolo do comunismo no mundo é também o grande motor desses espigões capitalistas. A verdadeira diferença entre a China e os países considerados capitalistas de alto nível está mais relacionada ao regime político do que às características econômicas. Em muitos aspectos, a China apresenta um capitalismo mais dinâmico. E, se compararmos com outros países, ela também se mostra mais eficiente como concorrente e incentivadora da livre iniciativa e do lucro.

Se sua posição política é de esquerda, talvez você possa conquistar seu amigo de direita com esse quadro comparativo. E se você é de direita, talvez tenha chegado a hora de parar de brigar com o amigo de esquerda e se declarar fã do sistema econômico chinês. Ter um smartphone de marca americana por um preço acessível? Na China, você pode (pelo menos até hoje). No Brasil, nada de tecnológico é verdadeiramente acessível.

Comparação: Ambiente de Negócios – China x Brasil

Aspecto

China

Brasil

Burocracia e regulação

Regulamentação pragmática, regionalizada, com menos entraves em setores estratégicos.

Excessiva burocracia para abrir e operar empresas; regulamentação complexa.

Infraestrutura e logística

Alta qualidade em transporte e conectividade digital, inclusive em áreas remotas.

Deficiências graves em transporte e conectividade, dificultando a expansão.

Inovação e tecnologia

Forte apoio governamental com subsídios, centros de inovação e acesso a tecnologia.

Apoio limitado e irregular; acesso restrito a linhas de fomento e pesquisa.

Acesso a crédito

Bancos públicos e privados com políticas direcionadas ao pequeno empreendedor.

Crédito escasso, caro e com exigência de garantias difíceis de cumprir.

Política industrial

Estratégica e direcionada, com incentivo à cadeia produtiva nacional.

Inexistência de uma política industrial clara e de longo prazo.

Cultura empreendedora

Empreendedorismo valorizado socialmente; incentivo a startups e inovação.

Empreendedorismo muitas vezes por necessidade; valorização ainda limitada.

Tributação

Sistema mais simples e previsível; incentivos fiscais regionais.

Sistema tributário complexo e oneroso; alta carga e incerteza jurídica.

Abertura e tempo para empreender

Abertura de empresas pode ser feita rapidamente em algumas zonas econômicas.

Processo longo e caro, com exigências legais e fiscais onerosas.

Digitalização de serviços

Alto grau de digitalização pública e privada para empreendedores.

Avanços recentes, mas ainda aquém em integração e cobertura nacional.

Integração global

Forte inserção nas cadeias globais de valor, especialmente na exportação.

Menor participação nas cadeias globais; entraves alfandegários e logísticos.

1. Ambiente regulatório mais pragmático

  • China: Apesar de um forte controle estatal, o governo chinês frequentemente reduz burocracias para setores considerados estratégicos, como tecnologia, manufatura e exportação. Muitas reformas locais são implementadas com agilidade, dependendo da região.

  • Brasil: O excesso de burocracia, carga tributária complexa e legislação trabalhista rígida dificultam a vida do empreendedor. A abertura de empresas e a obtenção de licenças é mais demorada e custosa.


2. Infraestrutura e logística

  • China: Investiu massivamente em infraestrutura logística (portos, ferrovias, rodovias e internet), facilitando negócios em todo o território. Isso reduz o custo operacional de empreendedores e melhora a competitividade.

  • Brasil: Sofre com deficiências crônicas em infraestrutura, o que encarece o transporte de mercadorias e dificulta o crescimento de pequenas empresas fora dos grandes centros.


3. Incentivos à inovação e tecnologia

  • China: Políticas públicas agressivas de apoio à inovação, com subsídios, incubadoras, acesso facilitado a crédito e estímulo à digitalização de pequenas empresas.

  • Brasil: Apesar de alguns programas de incentivo, a burocracia e a instabilidade política limitam o apoio consistente à inovação. Startups sofrem com dificuldade de acesso a financiamento.


4. Acesso a crédito

  • China: Bancos estatais e regionais têm metas claras de fomento a pequenos negócios. Linhas de crédito subsidiado são amplamente utilizadas para estimular o empreendedorismo.

  • Brasil: Altas taxas de juros, exigências excessivas de garantias e risco bancário elevado dificultam o acesso a crédito para pequenos empreendedores.


5. Política industrial coordenada

  • China: O Estado define setores prioritários e direciona recursos e incentivos para desenvolvê-los. Pequenas empresas podem se beneficiar ao se inserir em cadeias produtivas planejadas.

  • Brasil: Falta uma política industrial clara e de longo prazo. O empreendedor muitas vezes atua isolado, sem suporte de um ecossistema coordenado.


6. Cultura pró-negócios

  • China: O empreendedorismo é visto como motor de desenvolvimento e é incentivado socialmente, inclusive entre jovens. A valorização do sucesso empresarial é mais intensa.

  • Brasil: Embora o empreendedorismo tenha crescido, ele ainda é muito associado à informalidade ou à necessidade (autoemprego), e há obstáculos culturais e burocráticos ao crescimento.


7. Ambiente tributário

  • China: Embora haja impostos e controle, o sistema é mais previsível e algumas regiões oferecem isenções ou regimes simplificados para pequenas empresas.

  • Brasil: Complexidade tributária é uma das maiores do mundo. Mesmo o Simples Nacional pode ser complicado dependendo do setor e da faixa de faturamento.



Observações doloridas

  • Ter um carro com imensa tecnologia embarcada e baixa emissão de carbono ou mesmo emissão zero é algo possível na China. No Brasil, o preço e a variedade são limitados. Só temos mais acesso a veículos com preços mais baixos e maior variedade graças aos carros chineses.

  • Centros comerciais que parecem a Disney, com espetáculos de luzes, tamanho impressionante e encantamento? Na China, existem aos montes. Mais uma vez, a comparação com o Brasil chega a ser humilhante. A China é rica em arquitetura, que por si só já é um espetáculo visual.

  • Grupos gigantescos de turistas chineses ocupando os grandes centros do mundo também demonstram o avanço econômico individual da população. Melhor nem comentar como estamos nesse aspecto.

  • O crescente número de milionários e bilionários chineses é reflexo direto do estímulo ao empreendedorismo no país. Que tal, então, não falarmos da burocracia e do desestímulo ao empreendedorismo no Brasil?

  • A postura chinesa no planejamento de parcerias comerciais é, basicamente, uma luta pelo livre mercado. Quem diria!


Claro, a China não abriu mão do uso da força militar. Ela pretende, em algumas situações, agir de forma hostil na busca por territórios e mares. Também permite ou estimula suas embarcações a praticarem pesca ilegal em águas pertencentes a outros países. Não é um jogo limpo em muitos aspectos. Mas, por outro lado, a China também se empenha, em muitos momentos, na redução de conflitos e dosando discursos e, muitas vezes, apresentando respostas mais maduras do que os Estados Unidos, especialmente na recente guerra tarifária.

O protecionismo é, teoricamente, algo "comunista", enquanto o livre mercado é uma característica capitalista. O protecionismo vai contra o livre mercado e prejudica a população ao impedir o acesso a produtos mais baratos ou tecnologicamente superiores vindos do exterior. E sendo irônico, mas realista, se um dos grandes símbolos do capitalismo é o livre mercado, então algo que o contraria é, sim, anticapitalista.


A China do livre mercado e os Estados Unidos do protecionismo

É verdade que a liberdade de importação na China não é absoluta. Existem controles e tarifas elevadas em muitos casos. Mas a China tem algo que o Brasil não tem: processos bem desenhados, que reduzem os custos burocráticos e evitam a confusão fiscal causada por leis complicadas. Isso encarece ou até impede o acesso a produtos aqui no Brasil. A China entende que pode ganhar muito ao reduzir impostos em troca de maior acesso a mercados internacionais. Muitas vezes, seu poder de negociação é tão estratégico que ela aceita reduzir taxas visando ganhos comerciais globais.

Já os Estados Unidos parecem ter imitado o Brasil da época da reserva de mercado, isolando o consumidor do acesso a melhores preços e produtos tecnológicos. Isso sob a ilusão de que tal medida gera empregos. No Brasil, o que acontece é que acabamos gastando boa parte do salário apenas para adquirir o básico em um país caro. Se é isso que chamam de geração de empregos, então estamos jogando fora os ganhos que viriam com a liberdade de compra e com o aumento da concorrência. Essa falsa proteção só favorece as indústrias ineficientes, que se acomodam e tornam seus clientes reféns. O Brasil é mestre nisso há décadas. Chegamos a ter uma época em que era mais barato comprar um iPhone em Miami, com passagem de ida e volta do que na loja do shopping aqui. Saudades de 2023, quando era possível comprar importados diretamente de sites. Hoje, a diferença de preços é absurda. Até os Correios, que ganhavam com o aumento das entregas, voltaram a apresentar enormes prejuízos.

Vamos lá, turma: vamos imitar a China! Com ela mostrando um “supercapitalismo de esquerda”, não há razão para brigar com o amiguinho de nenhum lado. Cabe, sim, o capitalismo e o "comunismo" chinês na mesma definição.


Foco na Argentina

Certamente, o Brasil sempre foi o maior foco da China na América do Sul, mas os chineses perceberam na Argentina uma chance concreta de crescimento acelerado no estilo chinês. Detentora talvez da melhor leitura de oportunidades do mundo, a China não perderia a chance de se tornar parceira de uma abertura econômica de proporções gigantescas, como a que Javier Milei indica estar disposto a conduzir. Milei é provavelmente o líder mundial com maior apetite por liberalização de mercados, tanto por convicções ideológicas quanto pela necessidade de controle inflacionário. A concorrência sempre foi e continuará sendo a melhor ferramenta contra a alta de preços, além de garantir o abastecimento em setores nos quais a Argentina ainda não é autossuficiente.

O Brasil? Bem… é aquele país difícil de mover, seja para o bem ou para o mal. Mas, se o que for negativo combinar com interesses de setores específicos, aí sim o país se mexe, e rápido! Especialmente para criar novos impostos, burocracias e outras dificuldades.


O Mercosul pode ficar em segundo plano

O mercado comum do Cone Sul não se mostrou um instrumento infalível de integração regional. Em muitas análises, ele mais restringiu o acesso a outros mercados do que o contrário. Todos os países membros, se analisarmos com rigor, tiveram perdas com o Mercosul. O Chile, que ficou de fora, firmou diversos acordos bilaterais, sem as amarras do bloco, e está pronto para firmar muitos outros. O Brasil foi o que menos perdeu e, por isso, é visto pelos demais como o único que ganhou algo. Talvez o país tenha ganhado, mas os brasileiros não.

O Mercosul se transformou num arranjo que favorece a indústria ao vender para um grupo fechado de consumidores, sem muita opção. Mais um mecanismo que reduz a concorrência e fortalece lobbies.


A dureza de Milei com a China não durou muito

A retórica dura de Milei contra a China não resistiu ao primeiro contato com os melhores negociadores do mundo. Quase imediatamente, Milei recuou em seu discurso de campanha e passou a negociar com os chineses. Justificou sua mudança dizendo que a China não queria interferir nas decisões políticas argentinas, apenas fazer bons negócios. Assim, as barreiras ideológicas foram derrubadas para que as conversas sobre investimentos pudessem evoluir.


A China funciona com motores capitalistas

As diferenças entre o pensamento econômico chinês e o de Milei são muito menores do que parece. O senso comum (e boa parte da imprensa) tem enorme dificuldade em enxergar isso. Talvez meu vício em consumir dados e informações tenha me ajudado a aprimorar minha leitura econômica. E, por isso, me decepciono com analistas que só conseguem enxergar a superfície.

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