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A América Latina pode ganhar seu segundo “Milei” no Chile

Hoje, 16 de novembro de 2025, o Chile realiza o primeiro turno das eleições presidenciais, o que deve impulsionar a participação para acima de 80% dos 15 milhões de eleitores aptos. Johannes Kaiser, do Partido Nacional Libertário (ultradireita), surge como uma surpresa, com crescimento explosivo nas pesquisas finais: de 7% em agosto para 14-17% em novembro. Ele não deve vencer o turno inicial (líder é Jeannette Jara, da esquerda, com 26-33%), mas pode disputar o segundo turno em 14 de dezembro e atrair transferências de votos da direita fragmentada. Resultados preliminares saem ainda esta noite.

E sim, o comparativo com Javier Milei, presidente argentino desde 2023, é fascinante: ambos representam uma onda libertária antiestablishment na América Latina, apelando a jovens frustrados com crime, imigração e "Estado inchado". Mas Kaiser é mais pragmático, adaptado ao contexto chileno.

Visão Econômica Compartilhada: A Herança de Ludwig von Mises. Ambos pensam a economia principalmente sob a ótica de Ludwig von Mises, o economista austríaco fundador da Escola Austríaca de Economia, ícone do libertarianismo e referência essencial para o anarcocapitalismo (embora o próprio Mises fosse minarquista, ou seja, defensor de um Estado mínimo para defesa e justiça, não anarquista puro).

Diferentemente de presidentes alheios a compreensões aprofundadas sobre economia, que fingem expertise para justificar poder, sem noção real do que fazem, Milei tem uma profunda compreensão econômica, focada em modelos funcionais baseados em mercados livres, e rejeita "modelos ilusionistas" como o de Keynes. Seus pares internacionais, especialistas em política mas meros "fingidores" em entender economia, apostaram em tragédia para a Argentina pós-Milei, baseados em superficialidade: ignoravam que cortes radicais no Estado (como os 90% de ministérios eliminados) visam corrigir distorções crônicas, não criar caos imediato.


Por que Keynes é amado no mundo e Mises não?

Por ser uma linha de pensamento que agrada presidentes apegados ao controle estatal, pensadores como John Maynard Keynes são idolatrados por ministros de economia que sussurram aos chefes: "Olha, seguiremos esse modelo que faz o que você quer: controle, poder e nomeações aos milhares no governo". Boa parte dos países, ainda longe de um desenvolvimento sustentável (seja por causa ou consequência desse modelo insatisfatório), tem ministros que defendem a intervenção estatal para "estabilizar ciclos, garantir pleno emprego e combater crises". Milei e Kaiser rejeitam veementemente esse keynesianismo. Esse intervencionismo foi aplicado com intensidade na Argentina dos Kirchners, na Venezuela de Chávez e em outros regimes populistas, resultando em desastres fiscais previsíveis: hiperinflação, desabastecimento, dívida impagável e colapso institucional. Mas o problema não se limita a esses casos extremos: mesmo em graus menores, o keynesianismo aplicado gera déficits crônicos, distorções de mercado e ciclos de endividamento em praticamente todos os países onde é adotado, do Brasil pós-1988 (com hiperinflação e planos frustrados) à Europa pós-2008 (com resgates bancários que inflaram dívidas soberanas).


Johannes Kaiser (Chile) e Javier Milei (Argentina)Ideias, Projetos e Estilo Político

Ambos são libertários, eleitos deputados em 2021 (Kaiser no Chile, Milei na Argentina), com discurso antiestablishment, uso intensivo de redes sociais e apelo a eleitores jovens frustrados com crime, imigração e "Estado inchado".


Tema / Proposta

Johannes Kaiser (Chile)

Javier Milei (Argentina)

Filosofia Econômica

Libertário moderado: defende redução drástica do Estado, mas aceita Forças Armadas, polícia e educação básica pública. Quer privatizar Codelco (cobre estatal) parcialmente.

Anarcocapitalista puro: quer extinguir o Banco Central, dolarizar, eliminar 90% dos ministérios e privatizar tudo (até rios e órgãos).

Imigração

Fechamento total de fronteiras: deportação em massa, fim do visto humanitário, "muro na fronteira norte".

Controle rigoroso, mas menos radical: fim da entrada por "direitos humanos", foco em segurança, mas não propõe muro físico.

Segurança / Crime

Mão de ferro: pena de morte para narcotraficantes, militarização de bairros, porte de arma para civis.

Liberalização de armas, mas sem pena de morte (constitucionalmente inviável). Foco em "cadeias privatizadas".

Aborto / Agenda de Costumes

Conservador, mas pragmático: contra aborto livre, mas não quer revogar a lei de 2017 (3 causais). Crítica ao "feminismo radical".

Radicalmente pró-vida: quer plebiscito para revogar aborto legal (2020), chama de "assassinato com agravante de parentesco".

Sistema Político

Reformista: reduzir número de deputados, fim do Senado, voto voluntário novamente.

Radical: quer eliminar Congresso ("ninho de ratos"), governar por decreto, dolarização sem aprovação legislativa.

Estilo / Discurso

Provocador, mas institucional: usa ironia, memes, YouTube. Evita xingamentos diretos.

Agressivo, performático: motoserra, gritos de "¡Viva la libertad, carajo!", xinga adversários de "zurdos de mierda".

Economia / Moeda

Não propõe dolarização. Quer peso chileno forte, corte de 30% no gasto público, fim de subsídios.

Dolarização total como dogma. Queima notas de peso em comícios.

Meio Ambiente

Cético do cambio climático, quer explorar lítio e cobre sem restrições "verdes".

Negacionista: chama aquecimento global de "mentira marxista", quer sair do Acordo de Paris.

Relações Internacionais

Pró-Israel, anti-Venezuela/Cuba. Crítico da China, mas quer comércio.

Aliado de Trump/Israel, rompeu com China ("comunistas"), cortou laços com Brasil (Lula = "ladrão").

Viabilidade Política

Pragmático: negocia com Chile Vamos (direita tradicional). Pode apoiar Kast no 2º turno.

Radical: rompeu com todos, governa com DNU (decretos), veto a leis, judicialização constante.


Perfis e pensamentos

Aspecto

Johannes Kaiser (Chile)

Javier Milei (Argentina)

Fidelidade a Mises

Alta: Cita Human Action para criticar socialismo; defende Estado mínimo para segurança e fronteiras (minarquismo misesiano puro).

Máxima: "Discípulo confesso", carrega livros de Mises em comícios; anarcocapitalista (além de Mises, com Rothbard).

Rejeição ao Keynesianismo

Total: Chama intervencionismo de "roubo legalizado"; quer corte de 30% nos gastos públicos e fim de subsídios.

Absoluta: "Keynes é uma fraude"; extinguiu Banco Central e 15 ministérios para evitar déficits keynesianos.

Propostas Econômicas Chave

Privatização parcial da Codelco (cobre); peso forte sem dolarização; foco em lítio livre de "restrições verdes".

Dolarização total; privatização de tudo (até rios); motoserra simbólica para cortar Estado.

Crítica a Regimes Intervencionistas

Ataca Boric como "kirchnerismo light"; prevê "colapso chileno" sem reformas misesianas.

Viveu o "desastre kirchnerista": hiperinflação de 289% em 2023; usa como lição global.

Viabilidade e Estilo

Pragmático: Negocia com direita tradicional; crescimento via YouTube e debates (15% nas urnas hoje).

Radical: Governa por decretos (DNU); performance agressiva, mas Argentina estabilizou inflação para 4% mensal em 2025.

Resumo em 3 Pontos

  1. Kaiser = Milei "light"


    Mesma raiva anti-sistema, mas sem anarcocapitalismo puro. Aceita Estado mínimo com segurança e defesa nacional.

  2. Kaiser é mais "chileno"


    Foco em cobre, fronteira norte (Bolívia/Peru) e crime local. Milei é global: dólar, China, Vaticano.

  3. Kaiser pode chegar ao 2º turno; Milei já governa


    Kaiser tem 15-17% (3º lugar hoje). Se direita se unir, pode ser kingmaker. Milei venceu em 2023 com 56% no balotaje.

Frase dos Dois (para comparar tom)

Kaiser (entrevista El País, out/2025)

Milei (discurso posse, dez/2023)

"O Estado chileno gasta como se fosse Dubai, mas entrega serviços de Somália."

"¡No hay plata! Vamos cortar el gasto público con motoserra, no con tijera!"


Média das Pesquisas para as Eleições Presidenciais no Chile (2025)As eleições

Elas indicam um cenário polarizado, com a esquerda liderando o primeiro turno, mas a direita fragmentada podendo se unir no segundo turno (previsto para 14 de dezembro, se necessário).Os principais candidatos incluem:

  • Jeannette Jara (Partido Comunista, coalizão governista de esquerda, aliada de Gabriel Boric): Foco em reformas sociais, redução da jornada de trabalho e expansão de direitos.

  • José Antonio Kast (Partido Republicano): Ênfase em segurança, combate à imigração irregular e corte de gastos públicos.

  • Johannes Kaiser (Partido Nacional Libertário): Propostas libertárias radicais, como fechamento de fronteiras.

  • Evelyn Matthei (União Democrata Independente, centro-direita): Busca estabilidade e coalizões moderadas.

Média das Intenções de Voto no Primeiro Turno

Agregadores de pesquisas (como Celag Data, AtlasIntel/Bloomberg, Criteria e Cadem) de junho a novembro de 2025, a média aponta para:

Candidato

Média de Intenções de Voto (%)

Observações

Jeannette Jara

28-32%

Líder consistente desde junho; projeções variam de 28,2% (início de novembro) a 32,7% (outubro).

José Antonio Kast

21-24%

Recuperação recente; média de 23,26% em outubro.

Johannes Kaiser

12-16%

Ascensão surpreendente nas últimas semanas, de 8% para 15,6%.

Evelyn Matthei

13-16%

Estagnada; caiu de liderança inicial para terceiro/quarto lugar.

Franco Parisi (independente, direita populista)

~10%


Outros (Enríquez-Ominami, Artés, Mayne-Nicholls)

<5% cada

Baixa relevância.

Indecisos/Brancos/Nulos

~10-15%


Nenhuma pesquisa projeta mais de 50% para um candidato no primeiro turno, tornando o segundo inevitável.


Cenário para o Segundo Turno (simulações de confronto direto):

  • Kast venceria Jara por 47% a 39% (AtlasIntel).

  • Kaiser ou Matthei também teriam vantagem sobre Jara, devido à fragmentação da direita no primeiro turno, que pode se consolidar depois.

  • Jara não ultrapassa 45% em projeções de segundo turno, refletindo o desgaste do governo Boric (aprovação ~30%) e preocupações com crime (53% dos eleitores citam insegurança como prioridade principal).

Temas Dominantes

  • Segurança e imigração: Preocupam 53% dos eleitores, impulsionando candidatos de direita.

  • Economia e fadiga social: Após fracassos constitucionais (2019-2022), há desejo por estabilidade, mas com demandas por mais igualdade.

  • Impacto do voto obrigatório: Espera-se alta participação (acima de 80%), possivelmente beneficiando outsiders.

O resultado pode marcar uma virada à direita, similar a tendências regionais (ex.: Milei na Argentina), mas a polarização sugere um pleito apertado. Resultados preliminares saem ainda hoje.


Por que o Chile tende a ter resultados mais robustos com Kaiser do que a Argentina teve com Milei, e com muito menos sofrimento

A comparação entre os cenários argentino e chileno deixa claro que o ponto de partida importa. As reformas econômicas de caráter liberal, seja no modelo Milei na Argentina ou no possível modelo Kaiser no Chile, produzem resultados muito mais eficazes e menos traumáticos quando implementadas em economias já ajustadas, com instituições sólidas e níveis de desequilíbrio macroeconômico muito menores. Esse é precisamente o caso do Chile.


1. O Chile não enfrenta as mesmas distorções extremas que a Argentina

Antes das reformas de Milei, a Argentina acumulava décadas de desequilíbrios estruturais:

  • inflação crônica acima de 150%;

  • controles de preços e tarifas;

  • déficit fiscal persistente;

  • múltiplas taxas de câmbio e mercado cambial completamente distorcido;

  • forte dependência do financiamento monetário do Tesouro;

  • reservas internacionais negativas.

Esse cenário faz com que qualquer ajuste seja, inevitavelmente, brutal.

Já o Chile:

  • apresenta inflação controlada;

  • tem câmbio flutuante funcional;

  • não pratica congelamentos artificiais generalizados;

  • possui superávits ou déficits fiscais moderados;

  • mantém credibilidade internacional, grau de investimento e reservas robustas.

Conclusão: O Chile não precisa “desmontar” um sistema distorcido. Ele parte de um nível de normalidade que a Argentina não tinha.


2. A economia chilena é estruturalmente mais aberta e integrada

O Chile é um dos países mais abertos comercialmente no mundo, com dezenas de acordos de livre-comércio e regras estáveis.

Reformas pró-mercado em economias abertas:

  • geram resultados mais rápidos,

  • atraem investimento externo com facilidade,

  • e têm menor custo social.

A Argentina, ao contrário, estava relativamente isolada, com pouca confiança externa e histórico de rupturas institucionais.


3. O Chile possui um sistema institucional e regulatório muito mais previsível

Um dos maiores entraves às reformas econômicas na Argentina é a instabilidade jurídica e regulatória: leis mudam com frequência, o Judiciário é imprevisível e há forte captura corporativa por sindicatos, governadores e grupos de pressão.

O Chile, apesar de tensões políticas recentes:

  • mantém estabilidade institucional,

  • possui tradição de ortodoxia fiscal,

  • conta com Banco Central independente há décadas,

  • adota regras claras para investimento e comércio.

Reforma com regras claras custa menos e gera mais resultado.


4. O Chile não tem um problema fiscal explosivo, e isso permite reformar com menos dor

A chave do “sofrimento argentino” está no ajuste fiscal massivo e imediato. Milei precisou cortar:

  • subsídios gigantescos,

  • déficit primário elevado,

  • gasto público descontrolado,

  • distorções tarifárias de décadas.

Esses cortes produzem:

  • recessão temporária,

  • aumento da pobreza,

  • choque de tarifas,

  • queda de renda disponível.

O Chile, por outro lado:

  • tem contas mais equilibradas,

  • não sustenta subsídios insustentáveis,

  • não acumula déficit estrutural histórico.

Assim, ajustes liberais não exigem austeridade traumática.


5. O Chile já possui capital humano e setor privado mais preparados

A Argentina, com décadas de intervencionismo e instabilidade, corroeu sua classe empresarial produtiva e estimulou a busca de “atalhos” regulatórios.

O Chile:

  • possui empresas mais competitivas,

  • tem setor financeiro sólido,

  • apresenta cultura econômica mais orientada ao mercado,

  • é mais previsível para o investidor global.

Reformas funcionam melhor quando existem agentes econômicos aptos a reagir positivamente.


6. O Chile chega com expectativas menos deterioradas

A Argentina entrou nas reformas Milei com:

  • falta de credibilidade,

  • expectativas quebradas,

  • pessimismo estrutural,

  • fuga de capitais histórica.

O Chile, mesmo com instabilidades recentes, mantém:

  • confiança de médio prazo,

  • credibilidade institucional,

  • histórico de responsabilidade fiscal.

Expectativas mais saudáveis reduzem a necessidade de “choques”.

O Chile tende a ter uma transição muito menos dolorosa

Se Kaiser aplicar um programa econômico liberal semelhante ao de Milei, os resultados no Chile provavelmente serão:

  • mais rápidos,

  • menos traumáticos,

  • com menor queda do poder de compra,

  • com maior confiança e estabilidade,

  • e com melhor atração de investimentos.

Isso ocorre porque o Chile começa de um patamar funcional, enquanto a Argentina partia de um colapso interno.

Reformas liberais nunca têm o mesmo impacto em duas economias distintas. No caso argentino, a casa estava em chamas. No caso chileno, as reformas seriam feitas com a casa de pé, permitindo ajustes com menos sofrimento e resultados mais robustos.

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